Sumário (Clique nos títulos para acessar editorial ou resumos disponíveis)
Estamos às vésperas do 47º Congresso Internacional de Psicanálise cujo tema é: Explorando os conceitos fundamentais: sexualidade, sonhos, inconsciente. Esses conceitos, desenvolvidos por Freud, fundam a nossa disciplina e a metapsicologia, nada mais apropriado para comemorar os 100 anos da fundação da IPA.
Relembramos as palavras com as quais Freud deu início aos textos de sua Metapsicologia:
Não é raro ouvirmos as exigências que uma ciência deve ser edificada sobre conceitos fundamentais claros e bem definidos. N a realidade, nenhuma ciência começa com tais definições, nem mesmo as mais exatas. O verdadeiro início da atividade científica está na descrição de fenômenos que depois são agrupados, ordenados e relacionados entre si, já na descrição é inevitável que apliquemos ao material certas ideias abstratas, tomadas daqui e dali, tomadas não só da nova experiência…Apenas depois de uma exploração mais radical desse âmbito de fenômenos podemos apreender seus conceitos fundamentais de maneira mais nítida e modificá-los progressivamente … Mas, o progresso do conhecimento não tolera definições rígidas. (Freud, 1915/2010, p. 52)
Freud expressa nesse texto um espírito de abertura, pesquisa clínica e humildade na construção de conceitos. Também assinala que as descrições clínicas possuem alguns
elementos, “certas ideias abstratas”, que não se originam apenas da experiência, desse modo alerta às limitações do empirismo ingênuo.
Compreendemos o convite a explorar os conceitos fundamentais da psicanálise como um convite à indagação sobre os diferentes “contextos” nos quais a prática clínica acontece e nos quais novas teorizações emergem. Diz Mezan:
pode-se falar em contexto teórico no qual se formulam as noções, do contexto cultural e social que emoldura e atravessa a prática clínica, de contexto no sentido mais restrito de uma escola dentro do pensamento psicanalítico etc. (Mezan, 2002, p. 444)
Assim são complexos, sobredeterminados e não lineares os caminhos que conduzem às novas teorizações e modelos, fato que podemos observar nas respostas, de analistas
de várias latitudes e instituições, às perguntas formuladas pelo Comitê Organizador do Congresso que publicamos neste número. Para estimular e enriquecer o debate e a reflexão dos nossos leitores convidamos Ruggero Levy, Deodato de Curvo Azambuja e Bernard Miodownik para comentar estes trabalhos expondo suas próprias ideias.
A ideia de contexto também se faz presente como eixo central no trabalho “Sobre migrações e transferências”, de Márcio de Freitas Giovannetti, que ao situar a clínica psicanalítica na perspectiva do contemporâneo o faz a partir de um “aqui e agora” inexoravelmente histórico.
A ideia de contexto far-se-á presente novamente, dessa vez no trabalho do analista italiano Franco Borgogno, “Ferenczi, o analista introjetivo”.
é preciso investigar o contexto analista-paciente em que os sintomas emergem, já que é a avaliação do contexto próximo e atual que nos permite conhecer “em miniatura” (Ferenczi, 1912a, p. 189) o modo em que surgiu, no passado, o sofrimento do paciente. (2011, p. 110)
Trata-se agora de apreender as sutilezas do contexto transferencial-contratransferencial da situação analítica.
Na seção de Interface, Jorge de Almeida, em seu ensaio “Condenados à interpretação: Kafka e os sentidos do mundo”, nos confronta com a incapacidade de outorgar pleno sentido a si mesmo e ao mundo no contexto histórico da modernidade. O absurdo, assim como para Freud, o umbigo do sonho, convocam o ato interpretativo ao mesmo tempo em que interrogam a possibilidade de sentido último.
Reconhecemos como presença central na psicanálise contemporânea o aspecto intersubjetivo, o inquestionável papel desempenhado pelo outro na constituição subjetiva, de
modo que falar em intersubjetividade hoje não é mais patrimônio exclusivo de uma escola. Buscamos oferecer aos nossos leitores, ao longo deste ano, na seção de Intercâmbio, diferentes concepções presentes na psicanálise mundial em torno do intersubjetivo. Neste número publicamos um trabalho recente de Robert D. Storolow, um dos pioneiros da abordagem intersubjetiva americana.
É difícil assinalar a riqueza, neste breve espaço, de todos os trabalhos publicados, convidamos, então, o leitor a percorrer os textos de Julia Coutinho Costa Lima, Adriana
Salvitti, Ronis Magdaleno Junior e Julio Hirschhorn Gheller que, ancorados na experiência clínica, tematizam diferentes aspectos da clínica atual, mostrando a vitalidade e vigência dos fundamentos de nossa disciplina.
Referências
Borgogno, F. (2011). Ferenczi, o “analista introjetivo”. Revista Brasileira de Psicanálise, 45 (2), 105-117.
Freud, S. (2010). Ensaios de Metapsicologia. In S. Freud, Obras completas. (Vol. 12, Paulo Cesar de Souza,trad.). São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1915)
Mezan, R. (2002). Sobre a epistemologia da Psicanálise. In R. Mezan, Interfaces da psicanálise (pp. 437-519).São Paulo: Companhia das Letras.
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“Explorando conceitos centrais em Psicanálise” é o tema do Congresso Internacional da IPA no México que, entre outros, discutirá os quatro relatórios elaborados por analistas de diferentes regiões e de visões teóricas diversas (Kancyper, Salomonsson, Kulish e Roussillon) sobre sexualidade. Este comentário analisa inicialmente as perguntas dirigidas aos relatores mostrando que indicam o interesse em explorar a centralidade ou não da sexualidade infantil na clínica psicanalítica atual. N os quatro relatórios verifica-se as inúmeras mudanças ocorridas sobre o tema, principalmente a compreensão dos aspectos não sexuais presentes, sendo que estes se tornaram foco da investigação psicanalítica em algumas vertentes teóricas. Estes aspectos são debatidos, inclusive as controvérsias resultantes dessas mudanças. Este comentário procura mostrar como os aspectos sexuais e não sexuais se alternam dinamicamente e se apoiam de forma mútua.
Palavras-chave: sexualidade infantil; psicanálise contemporânea; relação pulsão-objeto; apoio.
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O comentador procura captar como cada respondente encara a tarefa de responder às questões propostas no painel, e ao mesmo tempo desenvolve ideias próprias a partir de sua experiência sobre o tema.
Palavras-chave: sonho; realização de desejo; trauma; mundo interno; interpretação.
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O autor inicia seu texto com uma contextualização da evolução do conceito de inconsciente na teoria psicanalítica, destacando que houve uma ampliação da metapsicologia freudiana, principalmente a partir das contribuições de Klein e de Bion. Propõe que as contribuições de Bion inauguram um modelo teórico que prevê zonas mentalizadas e não mentalizadas em que o inconsciente se organiza de modo diverso. Ao final, estabelece um diálogo imaginário com quatro autores convidados pela IPA a produzirem textos sobre o tema do inconsciente.
Palavras-chave: inconsciente; evolução do conceito de inconsciente; ampliação da metapsicologia psicanalítica.
As diversas interpretações da obra de Franz Kafka, contemporâneo de Freud, têm de enfrentar um tema que marca o nascimento da modernidade: a incapacidade de dar um sentido completo a si mesmo e ao mundo. Partindo de uma leitura do conto “Os que passam por nós correndo”, nosso ensaio pretende demonstrar como narradores, personagens e leitores de Kafka compartilham o mesmo destino: estão condenados à interpretação. Isso os aproximaria da prática psicanalítica, que também não pode confiar em métodos gerais organizados a priori, nem pressupor a existência de um sentido anterior ao próprio ato da interpretação.
Palavras-chave: interpretação; Franz Kafka; sentido; realismo; psicanálise, alegoria
O artigo se propõe a pensar a clínica psicanalítica da perspectiva da contemporaneidade, isto é, enfatizando que é somente no aqui e agora histórico que ela se dá. Uma análise que vem sendo feita há três anos, na maioria das vezes via Skype, serve de ancoragem para questionamentos a respeito do que é o aqui e agora transferencial. Dela também emerge aquilo que o autor vem a denominar de função testemunho do analista.
Palavras-chave: contemporâneo; aqui e agora; conceitos migratórios; função testemunho.
O objetivo deste trabalho é evidenciar os motivos pelos quais, no âmbito de nossa história, Ferenczi representa o protótipo do analista introjetivo por excelência. Para isso, adotarei o tipo de leitura dos textos clássicos da psicanálise que propus em Psicanálise como percurso (1999), explorarei e discutirei algumas das razões teóricas e clínicas que, ao longo de todo seu “percurso de vida e obras”, transformaram-no num analista introjetivo. É justamente essa sua característica específica a torná-lo, ainda hoje, para muitos de nós, uma inspiração e um mestre de um modo contemporâneo. Concentrarei minha reflexão, em particular, sobre seus primeiros escritos e sobre os últimos, para demonstrar o
progressivo desenvolvimento dessa importante diretriz de sua concepção psicanalítica e de seu estilo.
Palavras-chave: Sándor Ferenczi; introjeção; projeção; inversão dos papéis; continência; transformação.
Este estudo teve como tema as estratégias de localização da subjetividade. Seu objetivo foi o de analisar os modos de localização da vida subjetiva que foram desenvolvidos pela teoria psicanalítica de Winnicott. Para tanto, enfocou-se as ideias de internalidade e externalidade na constituição das subjetividades, bem como destacou-se a contribuição que a noção de espaço transicional trouxe para esse campo. Chegou-se, assim, à análise de algumas matrizes de entendimento para as relações entre interno e externo, e para a noção de espaço segundo a obra winnicottiana. Dentre essas, sobressaíram na discussão as noções de internalidade como privacidade; apontou-se também para a ideia constitutiva
de espaço como limite e por fim, foi abordada a ideia de espaço sem limites, que estaria mais afinada com uma noção interacional de espaço, ou espaço da continuidade.
Palavras-chave: subjetividade; espaço transicional; Winnicott.
N a década de 1950 Bion publicou artigos dedicados à clínica da psicose que são conhecidos por mostrarem a pertinência, o alcance e os desdobramentos possíveis dos conceitos de Melanie Klein. Embora a ênfase esteja colocada nos processos patológicos da posição esquizoparanoide, Bion também nota a existência de processos que participam dos primórdios da simbolização nessa mesma posição. Descreve as tentativas da personalidade psicótica de restaurar o ego danificado, bem como o uso comunicativo da identificação projetiva. Essa contribuição teórica é acompanhada de uma abordagem clínica que compõe um esboço das discussões do autor sobre o método psicanalítico nas décadas seguintes,
em especial, sobre a importância de o analista observar qual a natureza dos fenômenos e pensar sobre o seu significado enquanto eles ocorrem.
Palavras-chave: personalidade psicótica; identificação projetiva; ideograma; pensamento pré-verbal; observação psicanalítica.
O autor propõe uma reflexão sobre o papel do trauma na estruturação do aparelho psíquico e de vazios representacionais e sobre o desenvolvimento da teoria freudiana que trata das neuroses atuais procurando demonstrar que seus sintomas são a representação somática da pulsão, marcas sem representação psíquica que se expressam por descargas corporais acompanhadas por sentimentos de medo, o que perpetua o efeito traumático. A hipótese é que o inconsciente materno tem um efeito traumático para o bebê, promovendo ao mesmo tempo o recalque primário e a fundação do Eu e, no caso de falhas na função materna, formam-se áreas de vazio representacional pelo efeito de comoção e antecipação. O manejo clínico destes pacientes apresenta particularidades, dependendo a eficácia da análise da empatia e da identificação para possibilitar, per via de porre, a construção de novas áreas psíquicas. A postura interpretativa clássica é ineficiente podendo ter um efeito re-traumatizante.
Palavras-chave: patologias de déficit; angústia atual; processo terapêutico; trauma.
Apoiado na experiência clínica com pacientes psicóticos, o autor assinala a importância da oferta de holding como passo inicial e possibilitador para se chegar posteriormente a um trabalho de processamento psíquico. O relato de duas análises serve de base para o desenvolvimento do tema.
Palavras-chave: continente-contido; contratransferência primordial; função alfa; holding; processamento psíquico.
Este artigo dá uma uma visão geral da evolução das ideias básicas da teoria dos sistemas intersubjetivos do autor, sua perspectiva psicanalítica fenomenológica-contextualista. A estrutura do seu sistema é fenomenológica na medida em que investiga e esclarece universos de experiência emocional; é contextualista na medida em que afirma que essas organizações de experiência emocional se dão sempre dentro de contextos relacionais ou intersubjetivos. A teoria dos sistemas intersubjetivos leva a mudança da mente para o mundo e da pulsão para a afetividade.
Palavras-chave: pulsão; trauma; afetividade; intersubjetividade; perspectiva fenomenológica contextualista.
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