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Volume 54 nº 4 - 2020 | Ideais

Sumário (Clique nos títulos para acessar editorial ou resumos disponíveis)

Editorial

Marina Massi

Projeto editorial, últimas palavras

No primeiro editorial de nossa gestão, em 2017, afirmamos que

a criação de uma revista é a marca de uma geração e de seu projeto intelectual, ar­tístico ou científico. Toda revista, em especial aquelas que têm longa duração, gera um espaço de sociabilidade intelectual ao redor do qual se organizam intercâmbios e enfrentamentos. A RBP, sem dúvida, representa o patrimônio histórico, intelec­tual e científico de algumas gerações da psicanálise no Brasil, vinculadas à IPA. É fundamental não nos esquecermos de nossas conquistas. Não podemos menos­prezar o fato de termos uma revista científica com mais de 50 anos de existência, um feito notório quando pensamos em nosso país, este que ainda luta por estabili­dade e continuidade de suas instituições democráticas. A RBP é um patrimônio que construímos e mantemos com afinco, cuja função foi bem definida no regulamento da Febrapsi firmado em 1974, no artigo 44, § 1.º: “Difundir a psicanálise brasileira em sua expressão de melhor qualidade; manter o meio psicanalítico brasileiro in­formado da produção editorial atual, da produção internacional e, em particular, da latino-americana; lutar por espaços editoriais para a produção brasileira nas diversas instâncias internacionais”. (Massi, 2017, p. 14)

Estamos encerrando quatro anos de intenso trabalho na Revista Brasileira de Psicanálise, com o sentimento de que, entre acertos e erros, nos empenhamos em dar seguimento às gestões anteriores, que modernizaram a RBP e que nos inspiraram a torná-la uma revista científica contemporânea, aberta aos novos desafios que a atualidade impõe à psicanálise; ao espírito do mundo, com suas significativas transformações; aos novos sentidos de existir, de viver, de se apresentar e representar; enfim, às diferentes buscas individuais e sociais de existência.

Para tais desafios, foi necessário consolidar a autonomia editorial, a pluralidade do pensamento psicanalítico e o esforço de manter-se sintoniza­do com temas emergentes da cultura e do social que atravessam o território psicanalítico, reivindicando a nossa capacidade específica de reflexão analíti­ca. Acredito que em geral cumprimos o projeto editorial idealizado em 2017. Alguns reconhecimentos mostram que o projeto foi compreendido e valoriza­do, dentro e fora do Brasil. Acerca do número 1, volume 53 da RBP, Géraldine Troian afirma:

Este número tem por título “Ódio”. A equipe editorial quis se manter em sintonia com o movimento político e social que o Brasil atravessa. Os dois números ante­riores tratavam de política. Este número é o reflexo de um momento de polarização política, com o surgimento de sentimentos de ódio que não se revelam em tempos normais, mas que são exacerbados quando a democracia está em perigo. Freud sublinhou o peso da agressividade na economia psíquica. A raiva, o ódio e a des­trutividade estão à espera de uma oportunidade para permitir com que sua força se exprima. Os psicanalistas brasileiros aproveitaram o momento social e político para definir conceitos que permitem continuar a pensar e a elaborar estando co­nectados ao social. Peço desculpas por não poder mencionar todos os trabalhos, mas me pareceu mais pertinente comentar aqueles mais representativo no nível da clínica ou do pensamento do país. (2020, p. 537) (1)

Lutamos por espaços de reconhecimento da importância da RBP na psicanálise brasileira e no âmbito internacional, o que foi possível conquis­tar devido ao apoio fundamental do presidente da SBPSP, Bernardo Tanis, a quem agradeço profundamente o convite, a confiança e a oportunidade de ser editora da revista. Agradeço também aos presidentes da Febrapsi, Daniel Delouya, Anette Blaya, Wagner Vidille e Cíntia Albuquerque, pelo respeito à autonomia editorial e pelo apoio durante suas gestões, e aos queridos colegas das diretorias da Febrapsi, com quem tive o imenso prazer de conviver e muito aprender nesses anos de trabalho conjunto e solidário.

Agradecimentos indispensáveis

Agradecemos aos editores regionais e coeditores regionais, pelas con­tribuições e sugestões. Aos coeditores internacionais, Fernanda Sofio (Nova York) e Luiz Eduardo Prado (Paris), por aceitarem participar da criação dessa coeditoria, novidade que se mostrou valiosa e que tanto enriqueceu a revista. Vocês facilitaram e promoveram uma ponte entre a produção brasileira, a americana e a francesa. É um avanço que merece ser considerado para o futuro da RBP.

Aos colegas presidentes, aos representantes das federadas, na Assembleia de Delegados (onde pudemos apresentar o projeto editorial, mostrar resultados, prestar contas financeiras e propor novos projetos), pela confiança, generosida­de, compreensão, sugestões e, principalmente, pelo profundo apoio que recebe­mos ao trabalho editorial desenvolvido. Para nós, foi um apoio inestimável.

A Cláudio L. Eizirik, Leopold Nosek e Renato Mezan, conselheiros con­sultivos, com quem pudemos contar em orientações ou mesmo em participações especiais.

Aos interlocutores que nos ajudaram em diferentes momentos: Alexandre Socha, Alirio Torres Dantas Jr., Almira Rossetti Lopes, Daniel Kondo, Elizabeth da Rocha Barros, Leda Herrmann, Livia Garcia-Roza, Luca di Donna, Luís Carlos Menezes, Luís Claudio Figueiredo, Luiz Carlos Uchôa Junqueira Filho, Luiz Meyer, Marta Raquel Colabone, Ney Marinho, Nilde Parada Franch, Sérgio Dias Cirino, Sergio Nick e Silvana Rea.

Aos autores que nos enviaram suas produções, pela confiança e colabora­ção nos números publicados. Aos pareceristas, nossos parceiros incansáveis, que dedicaram seu tempo em avaliações detalhadas e com comentários construtivos aos autores, permitindo um trabalho delicado de melhoria dos artigos.

Aos parceiros do trabalho nos bastidores, fundamental para a qualida­de e a beleza da revista. Sem vocês, não conseguiríamos atingir as metas que nos propusemos no início da gestão. Sua competência nos deu suporte para avançar. A muito eficiente Nubia Brito Bueno, uma séria e impecável assistente editorial. O sensível, sereno, consistente e extremamente competente revisor de texto Ricardo Duarte. A revisora de plotter Giovanna Petrólio. Os revisores de língua estrangeira Cristina Young, Darlene Lorenzon, Marilei Jorge e Sonia Augusto. Mireille Bellelis, nossa especial produtora, que faz a beleza estéti­ca da revista e garante que sejam atendidas todas as formalidades editoriais; Mireille participa há anos da produção gráfica da RBP, sempre de prontidão e disponível, nos fins de semana, a altas horas da noite ou nas férias, nos ajudan­do a encontrar as melhores soluções para o projeto editorial. Agradecemos à Lis Gráfica, por tornar possível o quase impossível, e com qualidade. A Taís Maia, da Febrapsi, por colocar à disposição toda a sua capacidade, agilidade e energia no auxílio à RBP em assembleias de delegados, em congressos e na divulgação da revista via Febrapsi. A Tatiana Borba e Bianca Bruna dos Santos, da Biblioteca Virgínia Bicudo, e Irene Pereira, do Centro de Documentação e Memória, por nos ajudarem mediante importantes levantamentos de dados. A Sandra T. Alves, da coordenação BVS-PSI Brasil, por nos orientar no processo de indexação da revista e de sua reabertura no portal de periódicos da área psi (www.bvs-psi.org.br).

Nossa gratidão pelo engajamento, apoio e disponibilidade de todos vocês.

À equipe editorial, o merecido reconhecimento

Agradecemos, pelo trabalho realizado nos anos de 2017 a 2019, ao querido Oswaldo Ferreira Leite Netto, editor associado; à colega Suzana Kiefer Kruchin, que colaborou com sua leitura crítica e suas questões que nos convo­cavam à reflexão; e a Gustavo Gil Alarcão, que se responsabilizou pela seção “História da psicanálise”.

Aos colegas que entraram em 2019, como Leda Maria Codeço Barone, editora associada, cuja participação foi imprescindível e impecável, e cuja ex­periência editorial muito nos ajudou em momentos decisivos. Todo agradeci­mento será insuficiente para registrar a dedicação, competência, conhecimen­to, compromisso, responsabilidade, criatividade e solidariedade que a equipe editorial mostrou nesses anos de trabalho conjunto. Sem a participação de vocês, queridos colegas – Abigail Betbedé, Berta Hoffmann Azevedo, Cláudia Amaral Mello Suannes, Denise Salomão Goldfajn, Maria do Carmo Meirelles Davids do Amaral, Patricia Vianna Getlinger, Ricardo Trapé Trinca, Sonia Soicher Terepins e Tiago da Silva Porto, um grupo tão especial e qualificado –, não haveria possibilidade de concretizarmos este projeto editorial e alcançar­mos a classificação b1 na avaliação Qualis (Capes), um maior fator de impacto e também um aumento de números esgotados.

Atravessamos juntos um tempo de marcantes acontecimentos sociais, políticos, culturais e tecnológicos; uma brusca mudança no tradicional enqua­dre analítico e nas nossas reuniões, que passaram a ser virtuais; o isolamento social, as angústias e os medos. Enfim, o coronavírus dificultou o nosso tra­balho em equipe, mas tivemos resultados gratificantes com os números sobre a pandemia. Entendemos que a RBP não se furtou a pensar sobre um tema tão complexo, polarizado e assustador. Estivemos presentes trazendo relatos, experiências e primeiras teorizações. Conseguimos criar um espaço sereno de reflexão sobre assuntos relevantes.

Creio que teremos muito a comemorar quando o isolamento social não for necessário, pois acredito que juntos colaboramos para uma RBP con­temporânea, para um salto na infraestrutura da revista (mailing, Facebook, Instagram), nos intercâmbios nacionais e internacionais dentro e fora da IPA, no reconhecimento da qualidade dos artigos publicados e da relevância da RBP na comunidade psicanalítica e científica. Cumprimos a missão da revista com dedicação, responsabilidade, muito trabalho e amor por este rico patrimônio intelectual que tanto nos orgulha por sua história, produção psicanalítica, longevidade, qualidade editorial e potencial de ir além nas futuras editorias e novas gerações.

Assim, desejamos ao novo editor, o colega Claudio Castelo Filho, e à sua equipe uma excelente gestão, com novos aportes, muitas realizações e sucesso em sua trajetória.

Para finalizar, agradecemos aos leitores que nos acompanharam ao longo dos últimos quatro anos e que tanto nos incentivaram neste trabalho editorial.

Boa leitura do número Ideais, e longa vida à RBP!

Referências

Massi, M. (2017). [Editorial]. Revista Brasileira de Psicanálise, 51(2), 13-16.

Troian, G. (2020). [Resenha de Revue Brésilienne de Psychanalyse, 53(1), 2019, “La haine”]. Revue Française de Psychanalyse, 84(2), 537-541.

(1) Tradução livre. “Ce numéro a pour titre ‘La haine’. L’équipe éditoriale voulait garder une synto­nie avec le mouvement politique et social que le Brésil traverse. Les deux précédents numéros traitaient de politique. Celui-ci est le reflet d’un moment de polarisation politique avec l’émer­gence de sentiments de haine qui ne se dévoilent pas en temps normal, mais sont exacerbés lorsque la démocratie est en péril. Freud a souligné le poids de l’agressivité dans l’économie psychique. La colère, la haine et la destructivité sont dans l’attente d’une occasion pour per­mettre à leur force de s’exprimer. Les psychanalystes brésiliens ont saisi le moment social et politique pour définir des concepts qui permettent de continuer à penser et à élaborer tout en étant connecté avec le socius. Je m’excuse de ne pas pouvoir mentionner tous les travaux, mais il m’a semblé plus pertinent de développer davantage les plus représentatifs au niveau de la clinique ou de la pensée du pays.”

Diálogo

O autor descreve o nascimento da psique conforme cinco teóricos da psicanálise: Freud, Klein, Fairbairn, Winnicott e Bion. Vê isso como fundamental para que possa evoluir uma nova e fértil forma de pensamento e clínica psicanalíticos. A concepção de mente apresentada por cada um desses autores se desenvolve: começa como aparelho para o pensamento (em Freud, Klein e Fairbairn) e torna-se um processo localizado na experiência (em Winnicott e Bion). O trabalho deles inaugura e transforma radicalmente tanto o pensamento daqueles que os precederam como dos que os sucederam. Ao contar essas “histórias” do surgimento da mente, e descrever esse conceito na obra de cada um daqueles teóricos, o autor oferece não apenas sua estrutura narrativa e esclarecimentos acerca do trabalho deles, mas também suas próprias interpretações e extensões dessas ideias.
Palavras-chave: aparelho mental, mente como processo, surgimento da mente, ser, tornar-se

Ideais

Este texto é um breve comentário ao artigo “O assintótico”, de Fédida, destacando aspectos da escuta psicanalítica e várias facetas que decorrem das peculiaridades de seu objeto, um inconsciente, fragmentário, apreendido apenas nas brechas de uma formação como o eu que tende à unificação totalizante, sintética. A análise, voltada para particularidades cruciais de cada um, se faz, pois, à contracorrente de aspirações conformistas e massificadoras inerentes ao narcisismo.
Palavras-chave: escuta, escrita, teoria, instituições de psicanalistas, narcisismo,
formações de ideal

O artigo defende que os ideais são instâncias psíquicas inexistentes e irrealizáveis. São herdeiros do Édipo e se originam da economia narcísica, estando ligados às nossas identificações. Nascidos das nossas desilusões, eles dão suporte à transformação delas em fantasias e ilusões de prazer que sustentam o ego diante das suas limitações. O homem contemporâneo vive entre seus desejos e idealizações e as limitações de sua existência. O ego e seu ideal são separados por uma distância maior. Utopias desempenham uma função análoga à dos sonhos, quando permitem a elaboração da experiência. E desempenham outra função, semelhante à do ideal do ego, porque sustentam uma identificação idealizada que nos permite investir novamente no mundo das coisas. Esses ideais nos trazem esperança para lidar com os sentimentos de desilusão.
Palavras-chave: ideal do ego, utopia, sonhos, elaboração, desilusão

Este trabalho se propõe a definir o conceito de ideal diferenciando-o do ideal do ego, do superego, da idealização e da idolatria. O ideal é o fundamento principal da ética do sujeito. Do mesmo modo, isso motiva a repensar a maneira de entender o superego. Para estudar o ideal, o autor analisa suas origens geracionais, a transmissão pelos pais, a referência aos antepassados, às identificações secundárias. Todavia, o ideal não remete a um ser preciso, mas paradoxalmente a várias pessoas e a ninguém. Assim como o ideal do ego é o herdeiro do narcisismo, o ideal seria, mais precisamente, o herdeiro do narcisismo trófico, aquele que contribui para o crescimento. Na clínica e na prática analíticas, o conceito de ideal permite acolher o grito de vida ou de sobrevida por trás das ideias ou dos comportamentos de certos pacientes que parecem barulhentos e exuberantes, classificados geralmente como defesa maníaca. Para sustentar essas considerações, o autor apresenta várias ilustrações clínicas.
Palavras-chave: ideal, narcisismo trófico, defesa maníaca, criatividade

Neste artigo a autora pretende evidenciar o universo feminino. Também procura salientar que, nos processos de identificação, quando as funções parentais não são exercidas de forma clara, dificultam esse processo, gerando identificações com a borda do objeto, e não com o objeto total. Para tanto, por meio de relato clínico, descreve um processo analítico em que evidencia a precoce experiência traumática vivida pela paciente com o casal parental e o prejuízo causado na constituição de sua feminilidade. Na prevalência do funcionamento dos estados mentais primitivos, em que a função feminina não está bem constituída, é salutar a amplitude da experiência emocional vivida com a psicanalista, que, no exercício de sua função analítica, promove condições de registros emocionais vivos, sonhando junto com a paciente ou até por ela, contribuindo para a constituição e representação simbólica de sua existência e de novos recursos para a vida emocional.
Palavras-chave: ideais, feminino, função parental, função analítica, simbolização, sonhos

Desde a obra freudiana podemos notar a importância que a psicanálise atribui aos ideais, tanto os parentais quanto os culturais, para a formação da subjetividade. Este estudo teórico-reflexivo tem por objetivo analisar as tramas do trabalho vincular, a partir dos conceitos de vínculo, ajenidad e incertidumbre, à luz da psicanálise vincular. Inspirados pelo referencial teórico, destacamos algumas das contribuições originais de J. Puget para o tema e refletimos sobre suas implicações e ressonâncias no âmbito vincular, político e social. Argumentamos que os vínculos engendram uma diferença radical sobre a qual o trabalho vincular é construído, envolvendo sempre um elemento de incerteza. Depreende-se disso que a incerteza social, como sintoma que se mostra exacerbado no contemporâneo, associada à fragilização dos vínculos, pode levar à criação defensiva de figuras de exclusão no campo social, típicas de regimes totalitários. Cabe à intervenção analítica a tarefa de desnudar a trama subterrânea do trabalho vincular.
Palavras-chave: vínculo, narcisismo, coesão de grupo, psicanálise de grupo,
eu ideal

Interface

O autor propõe tratar de uma ética para o século xxi. Ressalta a contradição entre as conquistas alcançadas nos últimos 100 anos – como o aumento da expectativa de vida, a diminuição da mortalidade infantil, o aumento da produção de riqueza e o desenvolvimento tecnológico – e a difusão dessas conquistas. Houve avanço na capacidade de gerar riqueza, mas não na capacidade de distribuí-la. Reconhece que avançamos em série, no desenvolvimento econômico, nas condições do trabalho e no cuidado com o ambiente, sem, no entanto, termos uma visão integrada na qual o modo de produção se torne sustentável. Destaca o impacto ambiental deletério causado por um modo de desenvolvimento que não se coloca limites. Propõe, por fim, rever o papel e o perfil das lideranças governamentais, de maneira a levar o homem a compreender a relação entre produção, preservação da natureza e distribuição de riqueza.
Palavras-chave: sustentabilidade, ética, distribuição de riqueza

A proposta de reflexão sobre uma ética psicanalítica para o século xxi surge em um mundo convulsionado por excessiva agressividade entre humanos a partir das suas diferenças, assim como contra o meio ambiente, situações que ficaram agravadas na pandemia. Como é possível estabelecer similaridades com cenários distópicos de obras de ficção científica, comparam-se enredos e personagens ali encontrados com o momento atual. Obras sobre distopias costumam representar as angústias humanas mais primitivas deslocadas para o futuro. Destaca-se outro tipo de enredo, em que os aspectos colaborativos e integradores são utilizados para superar adversidades catastróficas grupais. Para argumentar sobre as diferenças de cenário, mostra-se que há uma característica genotípica humana apontada por Freud como da horda primitiva que se contrapõe ao fenotípico que foi se incorporando através do processo civilizatório em contínuo aperfeiçoamento. Ressalta-se o aspecto dinâmico apontado na relação genótipo-fenótipo conforme se apresenta no enquadre psicanalítico e de que forma se constitui como a nossa ética para lidar com as diferenças.
Palavras-chave: ética, processo civilizatório, distopia, utopia, enquadre psicanalítico

Propomos a ideia de que, para pensar o futuro da psicanálise, faz-se necessário recuperar a perspectiva histórico-temporal, evitando que as bolhas do presente impeçam um olhar em perspectiva. É preciso reconhecer nossos acertos e erros, nossos recalques e recusas defensivas, para quem sabe imaginar um futuro que não esteja condenado à compulsão à repetição. Apresentamos uma reflexão sobre o nosso lugar no cenário das práticas clínicas e sobre o diferencial que temos a oferecer aos jovens profissionais que nos procuram para formação. Sugerimos que, quando inspiradas na psicanálise, na sua ética, mesmo que pontuais e breves, diferentes modalidades de intervenção podem fazer parte da formação no nosso Instituto. Isso permitiria que os analistas atendessem demandas diferentes, que solicitassem adaptações técnicas, mas ancorados numa sólida base metodológica da psicanálise, desenvolvendo assim, ao longo da sua formação, um enquadre interno capaz de dar conta dessa variedade de demandas. Apresentamos a ideia de que transmitir e enriquecer de forma transformadora nosso legado não deve ser pautado por uma verdade imutável a ser imposta, mas por uma tradição vista como fonte inspiradora, que possa ser interrogada e sujeita a críticas e revisões.
Palavras-chave: futuro da psicanálise, transmissão, formação

Outras palavras

Este estudo psicanalítico das depressões parte do pressuposto de que esse quadro é sintoma da atividade de um núcleo inconsciente que se organiza em resposta a modos específicos de presença do objeto primário: 1) operatório, 2) em codependência, e 3) por desinvestimento ou por investimento negativo do sujeito. Essa compreensão permite reconhecer as características do campo transferencial-contratransferencial e conduzir as análises em cada caso.
Palavras-chave: psicopatologia, depressão sem tristeza, depressão com tristeza,
depressão melancólica

O autor aborda o feminino como substantivo neutro, correspondendo ao estádio da vida mental do recém-nascido. Conceitua os termos feminino, feminina, feminilidade, mulher e mãe com especificidades diferenciadas, elaborando conceito próprio em torno do que denominou enigma da vagina. Segundo a observação, a aquisição cognitiva proporcionada pelo meio empático-cuidador moldaria a mente da menina em uma fonte imaginativa de crenças oriundas do enigma da vagina em teorias próprias. Também repensa o complexo de castração da menina.
Palavras-chave: feminino, vagina, enigma, prazer receptivo, psicossexualidade

Duas leituras principais se apresentam sobre o Trieb. Uma delas entende o Trieb como somático. A outra, que este artigo defende, compreende o Trieb como um representante psíquico de estímulos somáticos. Este artigo diferencia três conceitos utilizados por Freud: Instinkt, Reiz e Trieb. Trieb é um conceito-limite, o que não significa que esteja no limite entre o somático e o psíquico. Os Triebe não estão presentes no nascimento, apenas os instintos, que serão pervertidos pelos primeiros. A gênese da sexualidade exige um trabalho psíquico e se dá a partir do apoio. “O pequeno Hans” é utilizado para exemplificar essa posição.
Palavras-chave: pulsão, Freud, Laplanche

Projetos e pesquisas

Pretendemos aqui discutir as peculiaridades da clínica em saúde pública junto a crianças e suas famílias durante a pandemia, considerando os impasses impostos pelo isolamento social e o acolhimento oferecido, mostrando a potência dos atendimentos online. Em contexto público já precário antes da covid-19, enfatizamos a valorização do trabalho clínico e da discussão psicanalítica para colaborar para a saúde institucional no oferecimento de nossos serviços à comunidade. Apresentam-se vinhetas clínicas ilustrativas.
Palavras-chave: saúde pública, pandemia, atendimento online, clínica psicanalítica com crianças

História da psicanálise

O presente artigo surge com o objetivo de discutir as iniciativas empreendidas por Virgínia Bicudo enquanto pioneira da psicanálise no Brasil. Partindo de levantamento bibliográfico e da realização de entrevistas, reconstitui-se o percurso profissional da personagem biografada. Virgínia Bicudo, proveniente de uma família pouco abastada, encontrou na aptidão intelectual um caminho para sobrepor o preconceito e obter destaque profissional. Após concluir o curso normal e formar-se em sociologia, foi em busca da psicanálise como um meio para aliviar-se do sofrimento pessoal. Encontrou na disciplina freudiana um campo profícuo, tanto para demandas pessoais quanto profissionais. Destacou-se como fundadora da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, da Sociedade de Psicanálise de Brasília, do Jornal de Psicanálise e da Revista Brasileira de Psicanálise.
Palavras-chave: Virgínia Bicudo, história da psicanálise, biografia

Resenhas