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Desilusões na clínica psicanalítica
Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar, mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta.
CLARICE LISPECTOR, A paixão segundo G.H.
“Rebeca, tire o vestido, você não é mais noiva nenhuma.” Esse chiste condensa o amor freudiano pela verdade e sua coragem em assumir desilusões e extrair delas consequências fecundas. Remete a uma anedota judaica mencionada na Carta 69 de Freud a Fliess, quando ele, desiludido, precisou renunciar à sua teoria da sedução como etiologia das neuroses.
Com Dora e o Homem dos Lobos, Freud também encontrou especiais dificuldades clínicas que não só conduziram a formulações essenciais, como a de transferência, mas também se tornaram ponto de partida de pesquisas, que ele deixaria como legado. Como quem redige um testamento, em seus últimos escritos, o austríaco confiou a seus herdeiros intelectuais a tarefa de olhar para as lacunas e respostas incompletas.
O caminho da desilusão marcou também a trajetória de outros grandes nomes da psicanálise que ousaram se aventurar por territórios desconhecidos, ver hipóteses se esfarelarem, e tentar tornar proveitosos os maus negócios – como bem recomendou Bion (1979).
Poderíamos arriscar sugerir que as desilusões são a verdadeira causa do movimento psicanalítico e, de forma mais ampla, de qualquer avanço científico. O saber só se move quando as respostas existentes não bastam, e quando essa insuficiência pode ser reconhecida.
A desilusão forma um par dialético com a ilusão, que Winnicott (1971/1975) identifica como responsável pela esperança na própria capacidade de criar as condições de que se precisa. A ilusão de onipotência, quando suficientemente vivida, sustenta as decepções graduais, sem perder a vitalidade para gerar novas ilusões, como uma chama que, apesar do vento, se recusa a apagar. Se no meio do caminho houver pedras, o desafio é não sucumbir em desesperança, mas renovar o fôlego para corrigir a rota e investir novas veredas.
O título deste número, que inaugura a atual editoria da rbp, encontra sua inspiração no trabalho de André Green (2010), que, ao final da vida, reuniu uma série de experiências clínicas falhas, transformando-as em sementes de pesquisa, faróis para os psicanalistas que navegam por águas turvas de expectativas e frustrações – insucessos que, a posteriori, podem ser pontes possíveis de novos caminhos.
A escolha temática deste número reflete um projeto editorial que nomeamos “Sotaques: psicanálise como um saber situado”. Ele busca ressaltar que a psicanálise, longe de ser um saber imutável, se forma nas particularidades do tempo, do lugar e do contexto. Como bem ilustra a trajetória do seu movimento, ela se espalha por diferentes solos, ganha múltiplos sotaques e reflete a germinação da semente freudiana nos mais diversos terroirs em que floresce (Mezan, 2019). Cada cultura, etnia, classe e gênero imprime na prática psicanalítica ritmos e entonações próprias, revelando a diversidade das questões que emergem de cada contexto histórico-social.
Em última análise, quando alguém se dedica à prática psicanalítica, carrega consigo os vieses de sua época e meio, como marcas inevitáveis da história em que se inscreve, ao mesmo tempo que busca ultrapassá-los sempre que se tornam barreiras à escuta.
Donna Haraway (1995), bióloga e filósofa estadunidense, sintetiza uma tendência crescente nas ciências e na psicanálise contemporânea. Ao propor o conhecimento como situado, a autora desafia a ideia de objetividade pura que por muito tempo foi o pilar das ciências. Nessa perspectiva, o saber se torna corporificado: ele é localizado, parcial, mas ao mesmo tempo radicalmente imerso no todo.
A ideia de sotaques traz consigo um compromisso com a pluralidade, reconhecendo que não existe uma fala padrão, isenta de sotaque – uma fala de referência em relação à qual as outras seriam apenas “diferentes”, se não fosse pela localização do enunciador.
O projeto editorial que propomos se dedica a extrair da clínica aquilo que ainda não foi suficientemente elaborado, com a intenção de responder aos obstáculos que surgem no cotidiano do trabalho psicanalítico. Assim, valoriza uma psicanálise aberta, a ser desafiada e desconstruída em suas respostas, corajosa em abandonar terceiras pernas para seguir avançando, o que norteou a escolha temática do ano.
A seção “Diálogos”, que ora inauguramos, tem como propósito criar um espaço em que os colegas sejam tomados como autores dignos de reflexão e debate, tal como costumeiramente são os autores estrangeiros. Aqui, as ideias em psicanálise poderão ser discutidas em profundidade, considerando múltiplos pontos de vista e as complexas nuances que permeiam nosso campo de estudo. O objetivo é fomentar uma troca enriquecedora, que amplie e aprofunde as perspectivas, respeitando a pluralidade e a diversidade que caracterizam o pensamento psicanalítico.
Na seção “Interface”, reservamos um espaço para que a temática de cada número tenha desdobramento interdisciplinar, de modo a oferecer a nossos leitores pontos de vista desenvolvidos por outras disciplinas que se dedicam ao assunto em pauta.
Desilusões na clínica psicanalítica convidou a comunidade de autores a elaborar um inventário de desilusões da prática psicanalítica, explorar as adversidades que permeiam nosso tempo e construir os futuros possíveis para as desilusões.
O resultado está nas páginas a seguir, que esperamos que mobilizem reflexão e interesse em nossos leitores.
Boa leitura!
Referências
Bion, W. R. (1979). Como tornar proveitoso um mau negócio (O. Knijnik, Trad.). Revista Brasileira de Psicanálise, 13(4), 467-478.
Green, A. (2010). Illusions et désillusions du travail psychanalytique. Odile Jacob.
Freud, S. (1986). 21 de setembro de 1897 [Carta 69]. In J. M. Masson (Ed.), A correspondência completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess (1887-1904) (V. Ribeiro, Trad., pp. 265-268). Imago.
Freud, S. (2010). História de uma neurose infantil (O Homem dos Lobos). In S. Freud, Obras completas (P. C. Souza, Trad., Vol. 14, pp. 13-160). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1918)
Freud, S. (2016). Análise fragmentária de uma histeria (O caso Dora). In S. Freud, Obras completas (P. C. Souza, Trad., Vol. 6, pp. 173-320). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1905)
Haraway, D. (1995). Saberes localizados: a questão da ciência para o feminino e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, 5, 7-41.
(2023). A reinvenção da natureza. wmf Martins Fontes.
Mezan, R. (2019). O tronco e os ramos. Blucher.
Winnicott, D. W. (1975). O brincar e a realidade (J. O. A. Abreu & V. Nobre, Trads.). Imago. (Trabalho original publicado em 1971)
Berta Hoffmann Azevedo
Editora
O autor discute a questão da ilusão e da desilusão na clínica psicanalítica à luz das contribuições sobre o trauma nas neuroses de destino – tema elaborado por Freud em Além do princípio do prazer – e sua relação com “O medo do colapso”,
trabalho póstumo de D. W. Winnicott. Muitas vezes, as desilusões na clínica são decorrentes da travessia pelo colapso, que remonta às experiências vividas junto aos objetos de origem. Como ilustração, o autor apresenta e discute material clínico, de sua clínica e da de outros, extraído da literatura psicanalítica.
Palavras-chave: trauma, o não acontecido, medo do colapso, compulsão à repetição
O autor retoma artigos anteriores para abordar dificuldades no exercício da clínica, com foco nas questões narcísicas do psicanalista. Destaca a importância de todo analista, ao longo da vida, aceitar submeter-se a reanálises. No entanto, fica patente que certos aspectos da personalidade do analista, na interação com os pacientes, podem causar ruídos no trabalho. Os encontros analíticos geram turbulências, produzindo material para reflexão. Isso pode, eventualmente, levar à elaboração de uma escrita que será de utilidade para o diálogo com os pares. O autor entende que o trabalho isolado, sem intercâmbio com os colegas, impede a evolução e desenvolvimento de conceitos, dificultando que estes sejam devidamente processados e utilizados pelo grupo psicanalítico.
Palavras-chave: análise interminável, continência, holding, ingratidão, inveja
Algumas vezes, encontramos na nossa clínica sujeitos que apresentam uma configuração especial e que nos põem, enquanto analistas, em uma posição difícil e de muitas dúvidas. Esses indivíduos costumam chegar afirmando que tudo vai bem em sua vida, que não há nenhum conflito, mas o analista percebe que são pessoas muito pouco interessadas em seu próprio mundo interior e com pouca curiosidade tanto por si mesmas quanto pelos outros. Tal desinteresse demonstra uma dificuldade muito grande de entrar em contato com a própria subjetividade, como se ela na verdade nem existisse. São pessoas “anormalmente normais”, portadoras de um vazio que não se mostra ou não é sentido como um vazio. As dificuldades transferenciais e contratransferenciais são imensas, reveladoras do que vários autores nomeiam de clínica das normopatias. Neste trabalho, por meio de vinhetas clínicas ficcionalizadas, a autora propõe um mergulho teórico-clínico na experiência de um atendimento, com todas as suas esperanças e desesperanças.
Palavras-chave: normopatia, vazio, clínica, pensamento operatório, normótico
A autora aborda o fenômeno da linguagem parasitária. Trata-se de uma
linguagem que parasita as estruturas linguísticas do outro, criando, assim,
uma manifestação dupla de onipotência e impotência; uma linguagem que for-
ma uma espécie de “prótese” linguística, que, por um lado, permite uma falsa aparência de pensamento e linguagem e, por outro lado, posiciona os pensamentos como objetos estranhos que não pertencem ao sujeito que fala, mas que estão
“colados” a ele de modo mecânico e artificial. As raízes precoces dessa linguagem, conforme será demonstrado por meio de um caso analítico detalhado, estão associadas à infiltração de vestígios traumáticos transgeracionais dentro da linguagem, o que transforma a própria linguagem em uma arena de compulsão à repetição que encena simultaneamente atos de salvação e de aniquilamento.
Palavras-chave: linguagem parasitária, trauma transgeracional, onipotência, perversão
A prática clínica contemporânea enfrenta desafios com personalidades narcísicas complexas, exigindo revisão das bases técnicas da psicanálise. Analistas lidam com quadros de grandiosidade defensiva e violência relacional que desestabilizam o setting. Tais encontros demandam escuta flexível, capaz de transformar impasses em oportunidades clínicas. A psicanálise demonstra capacidade de renovação através desses desafios, reafirmando sua relevância ao promover transformação mútua entre paciente e analista.
Palavras-chave: narcisismo, violência, escuta, transformação
A partir do referencial teórico winnicottiano, o autor apresenta o conceito de desilusão drástica. Diferenciando essa experiência das desilusões constitutivas experimentadas ao longo do desenvolvimento emocional, discorre sobre as particularidades desse acontecimento psíquico. Nas desilusões drásticas, ocorreria um questionamento das bases perceptivas que outrora produziram uma união amorosa eivada de ilusões não questionadas. Também haveria supressão da confiança, componente do vínculo amoroso, bem como desfusão emocional, fusão que tornava íntegro o objeto, isto é, amado e odiado. O autor apresenta como exemplo dessas ocorrências o trabalho clínico com pacientes que passaram pela dor da traição conjugal. Também discute o manejo clínico surgido dessa compreensão teórica, apontando como a potência analítica no cuidado pode favorecer a reintegração psíquica.
Palavras-chave: desilusão drástica, ilusão, Winnicott, traição amorosa
A intolerância e o fanatismo são temas de grande valor para a psicanálise. Na dimensão intrapsíquica, tais temas demandam intenso trabalho do analista. Afinal, nesses casos, fica-se próximo de dimensões negativas da mente, bem como de aspectos destrutivos, quando o luto por aquilo que se perdeu (objetos, ideais ou sonhos) não é experimentado. Como o sujeito vai lidar com tais processos? Neste trabalho, a autora tematiza a importância do trauma, que pode levar à ausência de tolerância à dor. Em situações como essa, o paciente se mostra fanático, no sentido de que apresenta uma mente rígida, saturada, que se opõe com intensidade ao outro e à diferença. Para lidar com essas questões, a autora desenvolve inicialmente ideias nos campos epistemológico e ontológico, esmiuçando estudos psicanalíticos sobre a intolerância e a violência. As vinhetas clínicas, que destacam a posição de não enlutar em face da desilusão, lhe são caras, pois a ajudaram a compreender a psicanálise em ação neste universo psíquico.
Palavras-chave: inconsciente, narcisismo, onipotência, representação, trauma
Neste artigo a autora aborda o íntimo entrelaçamento entre o Édipo e o superego na perspectiva de Wilfred Bion. Parte da premissa de que, de acordo com os percalços pessoais da vivência e da elaboração psíquica edípica, o superego pode ser a manifestação da vida psíquica mais arcaica e primordial, e portanto mais severo e obstrutivo, ou o resultado de dimensões representativas e experienciadas da mente, e assim um bom conselheiro. A autora ilustra suas ideias com um caso clínico de desilusão.
Palavras-chave: Édipo, superego, vida psíquica, experiência emocional, desilusão
Com este estudo teórico-reflexivo, os autores objetivam dialogar com as contribuições de Janine Puget para a compreensão das desilusões geradas pelos impasses teórico-clínicos contemporâneos com os quais nos deparamos na clínica psicanalítica. As principais linhas de força do pensamento dessa autora concernem à crítica da insuficiência de alguns conceitos clássicos da psicanálise, que ela redimensiona a partir da perspectiva vincular, e aos traumatismos sociais que transbordam na clínica, dando novos contornos à constituição subjetiva. Os autores concluem com duas das contribuições mais potentes de Puget: o elogio à crise, que se traduz nos impasses teórico-clínicos que vivenciamos e que, segundo a autora, devem ser reelaborados como alimento do pensamento psicanalítico, e o enaltecimento da diferença e da curiosidade, a partir do pressuposto de que o saber sobre o inconsciente é sempre não todo e tem caráter de construção provisória e impermanência.
Palavras-chave: vínculo, trauma, escuta psicanalítica, psicanálise das configurações vinculares
O autor propõe um estudo sobre a função da escrita analítica como recriação das áreas de ilusão e desilusão do próprio analista escritor. Parte inicialmente de uma releitura da ideia de escrita analítica como forma de ficção, como proposto por Thomas Ogden, para em seguida investigar suas origens na obra de seus precursores, como Winnicott e Bion. Considera que a função da escrita analítica se apoia nos conceitos de encontrado-criado e área intermediária da experiência, como estabelecido por Winnicott, e no de transformação, como formulado por Bion, sendo uma tentativa de representação da experiência viva com o paciente em análise. Além disso, assim como há um paralelo winnicottiano entre o desenvolvimento da criança em interação com a mãe e a evolução da relação do paciente com o analista em terapia, o autor propõe outro, a do analista escritor em relação à sua própria escrita, ao seu estilo. Finaliza argumentando que algumas das funções da escrita incluem não apenas a rememoração, mas também a imaginação e o sonho, a partir da integração de presente, passado e futuro numa narrativa que propicia um senso de coesão à vida.
Palavras-chave: escrita analítica, áreas de ilusão e desilusão, espaço potencial, narratividade
Freud atendeu Dora em 1900 por três meses, até esta abandonar o tratamento. Uma das suposições do analista foi que isso se deu por ele não ter percebido a tempo o movimento transferencial da paciente. Esses fatos amplamente conhecidos serviram de estímulo para a autora escrever este artigo, onde procura reproduzir o atendimento a Dora usando, para suas intervenções, as ferramentas clínico-teóricas que temos hoje. Com esse expediente, a autora visa entender Dora em seu sofrimento e sua demanda a partir de um suporte teórico que não existia em 1900, e convida os leitores a imaginar como conduziriam o caso se o recebessem hoje em seus consultórios. Para acompanhá-la em seu trabalho, ela se faz valer de autores mais atuais, como Bollas, Roussillon e Cassorla, e outros mais antigos, como Ferenczi.
Palavras-chave: Dora, transferência, contratransferência, enactment, desmentido
não disponível
O cenário global atual, permeado por desafios amplos como mudança climática, pandemias, guerras e ascensão da internet, cria vulnerabilidades sociais que geram traumas, impactando no sofrimento psíquico individual e coletivo. O método clínico da psicanálise possibilita a criação de novos dispositivos para a simbolização das experiências subjetivas e coletivas, destacando o papel sensível dos psicanalistas na escuta das questões sociais contemporâneas. A Federação Brasileira de Psicanálise (Febrapsi), reconhecendo sua posição privilegiada como categoria profissional, propõe o Observatório Psicanalítico (op) como uma intervenção clínico-política com duplo sentido: na vida pública e na vida institucional. Este estudo qualitativo, com 28 psicanalistas da Febrapsi, fez uso do método de análise temática, buscando compreender o significado do op para esses participantes. Identificou seis núcleos de sentido (grupalidade, comunicação, formação, democratização, articulação psicanálise-cultura-política, articulação psicanálise-sociedade), definidos operacionalmente a partir das respostas dos participantes. Foram identificados ainda objetivos adicionais não descritos no projeto de criação do op.
Palavras-chave: Observatório Psicanalítico, clínica extensa, cultura, política, sociedade
Nunca se para de falar sobre os estados do analista durante a sessão. Fala-se menos dos estados do analista pós-sessão. Alguns se dedicam à poesia. Outros à escrita. Outros ainda desenham ou pintam. A autora tratará destes no artigo, focalizando seu interesse mais especificamente em torno de Maria Torok, que conta com 300 desenhos e pinturas realizados pós-sessão. Tentará sugerir algumas ideias para a compreensão de certos estados do psicanalista pós-sessão. Para tal, o registro do alucinatório virá em seu auxílio.
Palavras-chave: o alucinatório, reverie, regrediência, progrediência, contratransferência
O autor sumariza aspectos da historiografia do desenvolvimento institucional da psicanálise no Brasil, aspectos associados a apontamentos da história contemporânea brasileira, com o objetivo de associá-los e correlacioná-los à biografia, à produção bibliográfica e às atividades de difusão de institucionalização da psicanálise de Virgínia Leone Bicudo, destacando o pioneirismo e a originalidade de algumas atividades e estudos.
Palavras-chave: Virgínia Leone Bicudo, racismo, historiografia da psicanálise no Brasil, institucionalização da psicanálise, sociologia
O autor explora a interseção entre psicanálise, memória e justiça no contexto dos julgamentos de crimes de lesa-humanidade na Argentina. Analisa como os sonhos e testemunhos de sobreviventes da ditadura militar (1976-1983) foram incorporados ao processo jurídico, desafiando a noção tradicional de prova e verdade no direito. A autora Fabiana Rousseaux, com o livro Sonhos e testemunhos: política do inconsciente e discurso jurídico, é referência central para discutir de que modo os sonhos, enquanto portadores de memórias traumáticas, podem ser vistos como provas legítimas no tribunal. O autor também reflete sobre a importância dos direitos humanos, da memória e da justiça em sociedades pós-ditatoriais, destacando o papel das Mães e Avós da Praça de Maio na luta por reparação e reconhecimento. Conclui que a abertura do sistema jurídico para o testemunho onírico e subjetivo é essencial para a elaboração do trauma e a construção de uma cultura de memória e justiça.
Palavras-chave: memória, trauma, testemunho, direitos humanos, sonhos