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Berta Hoffmann Azevedo, São Paulo
Quem me dera
Um mapa de tesouro
Que me leve a um velho baú
Cheio de mapas do tesouro
— Paulo Leminski
Há uma clínica psicanalítica padrão separável da invenção? Penso que não. Ao menos não aquela clínica em movimento vitalizado e vitalizador. Desse ponto de vista, a força da psicanálise não reside na rigidez de formas imutáveis, mas em sua capacidade de reinvenção, presente desde a origem, para criar as condições mínimas que permitam a instalação da transferência e a realização de um trabalho subjetivante.
O título deste número está no plural, e essa escolha, não aleatória, já afirma de antemão uma aposta que desloca a noção de que o consultório é o único espaço legítimo de exercício clínico da psicanálise. Com suas convenções de espaço, tempo e pagamento, ele é apenas uma das formas possíveis de clínica e, mesmo no interior dessa prática, a psicanálise inventa diversos dispositivos para atender aos igualmente múltiplos desafios que enfrenta.
Forma e conteúdo, assim, afetam-se mutuamente, e convém pensá-los em articulação entre si. Não é o mesmo escutar alguém no formato divã-poltrona, poltrona-poltrona, na modalidade individual, de casal, família, grupo, instituição, ou num formato a céu aberto na rua. Cada configuração responde melhor a um certo contexto de realidade e demanda. Mapas do tesouro, cujos caminhos moldam e transformam a experiência analítica, redefinindo a maneira como o sujeito pode falar, ser escutado e elaborar seu sofrimento.
Enquanto prática orientada pela escuta do inconsciente em transferência, a psicanálise pode encontrar lugar em contextos institucionais e comunitários, em modalidades bem estruturadas e estáveis ou em situações emergenciais, em que o enquadre tradicional não é possível e nem mesmo desejável. Nesses casos, a reinvenção da moldura permite a manutenção da aposta psicanalítica na sustentação da palavra, no acolhimento do sofrimento em seu contexto e na possibilidade de emergência de algo novo na experiência do sujeito.
Cada dispositivo traz consigo alcances e limitações próprios, nos quais vale a pena pensar. Os do consultório privado, mesmo em suas variações, são mais estudados e formalizados em pesquisas que aqueles reclamados por Freud desde 1918 (no Congresso Internacional de Psicanálise em Budapeste), para serem criados e ampliarem acesso e circulação da psicanálise a sujeitos historicamente excluídos do campo da saúde mental. Esses trabalhos parecem acontecer com maior frequência em modos experimentais do que orientados por pesquisa e formação prévia dos analistas. É essa lacuna que o presente número da rbp contribui para preencher.
Não basta criticar a máxima simplista “Isto não é psicanálise”. É preciso, além disso, pensar por que e de que modo os múltiplos enquadramentos sustentados por um psicanalista podem ser reconhecidos como prática clínica em psicanálise, sem se converterem em imitação mal-acabada da atuação em consultório, nem em gestos de caridade assistencialista.
O que sustenta a função analítica em dispositivos clínicos que não oferecem garantias fixas de regularidade, frequência e duração dos encontros? O que funciona como estrutura mediadora, capaz de promover e conter a irrupção pulsional e de favorecer a emergência do inconsciente na transferência? O que se escuta e como se maneja o que se escuta? A ênfase recai sobre vias coletivas ou individuais de elaboração? E em que medida se favorece ou não uma disposição regressiva?
A posição ética do analista diante de um sujeito e de seu sofrimento é decisiva nessa transformação elaborativa e nos efeitos de subjetivação que a psicanálise propicia. Ainda assim, a forma que o dispositivo técnico assume não é neutra nem irrelevante.
A função sustentadora do enquadre interno do analista (Green, 2012) permite que a psicanálise se realize também em circunstâncias aparentemente adversas. Em situações sociais críticas, as criações técnicas orientadas pela ética da psicanálise nem sempre serão semelhantes às condições de consultório. Elas respondem a conjunturas singulares e se sustentam precisamente na função do enquadre interiorizado, mesmo sem divã ou garantias de regularidade. O enquadre, assim, é menos uma moldura física do que uma posição subjetiva que possibilita a instalação da transferência e a recuperação da magia das palavras.
É o que acompanhamos nos textos reunidos neste número: alguns discutem a noção de dispositivo; outros apresentam suas práticas no território; todos testemunham a vivacidade da psicanálise que, ao ampliar seus dispositivos, não dissolve sua ética, mas, ao contrário, radicaliza-a.
Além dos trabalhos temáticos e dos artigos de tema livre, a seção “Diálogos” apresenta um texto teórico-clínico de Silvia Maia Bracco, “O menino-dossiê e os dispositivos clínicos”, realizado em um ateliê-escola junto a uma criança marcada por múltiplas interseccionalidades. O texto é comentado por Ane Marlise Port Rodrigues e Maria Teresa Naylor Rocha.
Já na seção “História da psicanálise”, Elizabeth Ann Danto aborda o trabalho comunitário desenvolvido por Anna Freud em Viena, entre os anos 1920 e 1930, destacando o compromisso da psicanalista com populações marginalizadas.
Na seção “Interface”, a diretora e dramaturga Janaina Leite assina “Teatro, uma (auto)análise”, em que explora os atravessamentos entre arte e psicanálise, as possibilidades elaborativas do processo criativo e o atual inflacionamento das poéticas do eu.
Por fim, temos o prazer de oferecer aos leitores a tradução inédita em português do artigo “O conceito de potencialidade psicótica”, de Piera Aulagnier.
Esperamos que as páginas a seguir inspirem a investigar e reconhecer os múltiplos dispositivos da clínica, pelos quais a psicanálise vem alcançando cada vez mais novos contextos.
Boa leitura a todos.
Freud, S. (2010). Caminhos da terapia psicanalítica. In S. Freud, Obras completas (P. C. Souza, Trad., Vol. 14, pp. 279-292). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1919)
Green, A. (2012). El encuadre psicoanalítico: su interiorización en el analista y su aplicación en la práctica. Revista de Psicoanálisis, 69(1), 1-24.
Berta Hoffmann Azevedo
Editora
DOI: 10.69904/0486-641X.v59n3.01
A autora propõe refletir sobre as intervenções psicanalíticas realizadas
fora do setting tradicional, partindo de uma cena que expõe questões ligadas à
identidade e ao pertencimento. Questiona como ampliar a escuta e os modos de
intervenção para que a psicanálise seja capaz de integrar as transformações sociais
e se tornar efetivamente inclusiva. Nesse sentido, o dispositivo clínico precisa ser
inventado conforme as especificidades do caso e do contexto – incluindo gestos,
mediações e, especialmente, a escrita. A escrita é sugerida como recurso capaz de
sustentar experiências, produzir simbolizações e transmitir o que ficou silenciado.
Registrar essas ações é também valorizar o trabalho realizado em enquadres não
convencionais, conferindo-lhe estatuto e permitindo deslocar aquilo que está na
margem para a borda.
Palavras-chave: psicanálise extramuros, dispositivo clínico, escrita, margem e borda,
inclusão social
O autor propõe uma reflexão sobre a escuta territorial como prática clínica
e ética da psicanálise em situações sociais críticas. A partir do diálogo entre
os fundamentos da psicanálise e o conceito de território desenvolvido por Milton
Santos, argumenta que o território deve ser compreendido em sua multidimensionalidade,
como espaço de disputas, relações simbólicas e produção de subjetividade.
Utiliza como referência o método da escuta territorial, elaborado por Jorge
e Emília Broide, que propõe uma clínica situada, capaz de acolher o sofrimento
psíquico nas margens do instituído, fora dos limites do consultório tradicional.
Destaca a importância da escuta sensível e politicamente engajada em situações
marcadas pela exclusão, defendendo a criação de dispositivos clínicos que possibilitem
o acesso à análise e sustentem a transferência em territórios vulnerabilizados.
Por fim, discute a urgência de uma psicanálise pública, integrada às políticas de
saúde mental, comprometida com a transformação social e com o enfrentamento
das desigualdades que atravessam o sujeito.
Palavras-chave: escuta territorial, psicanálise pública, território usado, situações
sociais críticas, dispositivos clínicos
Neste artigo, os autores compartilham a experiência da construção de
um dispositivo clínico transdisciplinar em rede, que sustentou a escuta e o manejo
psicanalíticos numa situação familiar na qual a destrutividade implicou limites
para o atendimento psicanalítico em consultório. Eles fazem um percurso guiado
principalmente por contribuições de autores que se dedicaram a pensar situações-
-limite, como André Green, Berta Hoffmann Azevedo, Luís Claudio Figueiredo e
Fabio Herrmann, para refletir sobre os impasses dessa clínica e os atravessamentos
que nos obrigam a reposicionar o próprio enquadre como operador psíquico. Isto
é, o enquadre não é dado, mas construído, criado, inventado, passo a passo, em
cada situação.
Palavras-chave: dispositivo clínico, enquadre psicanalítico, clínica transdisciplinar,
desamparo, situações-limite
A autora apresenta os primeiros anos do trabalho com grupos analíticos
na América Latina e no Brasil, para em seguida introduzir a trajetória do trabalho
analítico com grandes grupos ocorrido nas décadas de 1960 e 1970 na Inglaterra.
Mostra as perspectivas psicanalíticas, grupanalíticas e da group relations em suas
dimensões teórico-técnicas, destacando o papel do trabalho com grandes grupos
na criação de espaços coletivos de autorreflexão, diálogo e elaboração traumática.
Nessa direção, diante dos desafios apresentados pelo século 21, o trabalho com
grandes grupos, ainda pouco conhecido no Brasil, revela-se uma ferramenta fundamental
para o fortalecimento do laço social e a promoção da saúde mental e da
cidadania em grupos e sociedades.
Palavras-chave: grupos grandes, diálogo, elaboração traumática
O autor, a partir da evocação da experiência que conduziu no Centro
Cultural São Paulo há quase vinte anos, faz considerações sobre a importância de
o psicanalista alcançar outros territórios, se aproximar e se expor à diversidade dos
habitantes da metrópole, reafirmando a potência da psicanálise e garantindo sua
vitalidade.
Palavras-chave: psicanálise, psiquiatria, saúde mental, alcance social, diversidade
O autor parte de suas vivências como médico intensivista e psicanalista
para criar uma espécie de diário de bordo que comunica as situações emocionais
limítrofes experimentadas durante a pandemia de covid-19, utilizando-se da noção
do trânsito contínuo entre estados mentais – que denomina de estado mental
intensivista e estado mental psicanalista – para descrever as experiências emocionais
sofridas. Através do contato com sua intuição, imaginação e sonhos, apresenta
uma série de vinhetas clínicas, adotando como principal referencial o pensamento
de W. R. Bion.
Palavras-chave: mente multidimensional, pandemia, experiência emocional, experiência
catastrófica, psicanálise
Cada tragédia é um chamado à responsabilidade social e ética do psicanalista
para intervir na comunidade. O psicanalista conta com uma valiosa caixa
de ferramentas que lhe permite abordar o sofrimento humano provocado por
situações disruptivas, que podem vir a ser traumáticas quando a subjetividade é
desmontada em suas funções. O analista pode oferecer continência, uma escuta
psíquica, ser testemunha da dor mental, conclamar a vitalidade de Eros, criar uma
narrativa que permite nomear e dar sentido ao que outrora aparecia como impensável,
entre tantas outras misteriosas funções que exerce no campo analítico. A
identidade analítica propicia uma experiência emocional inédita permeada pelo
amor de transferência. O paciente é convocado, com fé, paixão e esperança no
método, para as transformações possíveis.
Palavras-chave: prevenção, clínica social, psicanálise na comunidade,
situação traumática
O ato de comer tornou-se bastante perturbado nas últimas décadas, ampliando-
se os transtornos alimentares e de imagem corporal. O aumento desses
quadros na clínica psicanalítica atesta que o controle social do corpo leva à alienação
dos sinais básicos da alimentação (fome, saciedade, prazer e escolha livre
de alimentos) e à busca por um corpo idealizado. A partir dos conceitos de ato
puro e mentalidade de dieta, a autora propõe o trabalho de consciência alimentar,
que pode ser realizado em grupo ou individualmente, como um dispositivo clínico
que agrega à investigação psicanalítica a potencialidade de trabalhar aspectos da
psicomecânica alimentar e dos sentidos de gordura e magreza. É indicado para
pessoas que sofrem com sintomas e problemáticas alimentares diversas, pois visa à
construção de maior autonomia alimentar.
Palavras-chave: ato puro, mentalidade de dieta, consciência alimentar, sintomas
alimentares, distúrbio de imagem
As autoras apresentam um dispositivo grupal desenvolvido com mulheres,
inspirado no método da fotolinguagem e sustentado pela escuta clínica,
ancorada na psicanálise, em suas extensões e em sua dimensão ético-política. A
experiência foi realizada em uma Unidade Básica de Saúde com mães de crianças
em grave sofrimento psíquico. As autoras discutem o dispositivo a partir de dois
eixos que emergiram da escuta: o olhar, entendido como gesto de apropriação e
deslocamento simbólico; e as formas de habitar a paisagem, compreendidas como
expressões de processos subjetivos em cena. Apresentam ainda recortes das falas
de duas participantes. Nessa direção, a mediação da imagem-paisagem revelou-se
um recurso clínico fecundo no trabalho com mulheres marcadas por violências
simbólicas e processos de desautorização subjetiva. As imagens escolhidas tornaram-
se suporte para a construção de um espaço estendido do eu, sustentado pela
articulação entre a dimensão coletiva e a singularizante.
Palavras-chave: fotolinguagem, psicanálise, paisagem, grupo de mulheres,
dispositivo clínico
Os autores apresentam o projeto vencedor do primeiro lugar do Prêmio
ipa na Comunidade e no Mundo 2025, na categoria Violência. Retratam o trabalho
do Grupo de Atendimento Clínico (gac), Cowap Brasil, criado em 2021
com o propósito de atender mulheres vítimas de violência intrafamiliar por via
do teleatendimento. Seguem a estrutura proposta pela ipa: 1) metas e objetivos do
projeto; 2) impacto na estratégia comunitária da ipa; 3) impacto na comunidade;
4) medição e avaliação dos impactos; 5) benefícios duradouros do projeto; 6) plano
de desenvolvimento futuro do projeto. Com a exposição da história do gac, seus
objetivos e ampliações, e com a apresentação de um caso clínico, ilustrador da
intervenção clínica com pacientes nessas situações emergenciais, procuram compartilhar
a experiência desse grupo de atendimento clínico e de pesquisa.
Palavras-chave: psicanálise, violência, trauma, gênero
Os autores refletem sobre a capacidade do grupo de “sonhar” um material
clínico e formar imagens e metáforas de alto poder evocativo, reconstruindo o caminho
analítico percorrido pelo paciente e pela dupla ao longo do processo. Para
isso, discutem acerca das particularidades dos processos associativos do grupo,
enfatizando a inter/pluridiscursividade e a domesticação de pensamentos selvagens,
os quais encontram, no grupo, pensador. Diante de novas ferramentas de
investigação em psicanálise, ilustram com a descrição de uma vivência de working
party e as formas como o grupo sonhou o material clínico. Essa espécie de sonhar
em grupo renova a fé no método psicanalítico, estimula a manutenção de uma escuta
analítica afiada e permeável às construções do(s) outro(s), revigora as formas
de transmissão e de ensino da psicanálise e mostra-se uma ferramenta útil para a
formação analítica continuada.
Palavras-chave: grupo, funcionamento grupal, reverie, sonhar, working party
A autora propõe um dispositivo – o ateliê clínico – para abordar o que
denomina dissociação teórico-clínica. Idealmente, ao fim de quatro encontros,
cada participante do grupo integra a experiência de como a clínica pede ferramentas
conceituais sem as quais é difícil transformar o “barulho” do material clínico
em sentido. E vice-versa: os colegas descobrem a teoria diretamente encarnada na
clínica; quando ela sai das páginas dos livros e ganha vida, pode ser integrada ao
repertório e à identidade do analista. A autora ilustra sua proposta com o relato de
dois dos quatro encontros de um de seus ateliês clínicos.
Palavras-chave: formação psicanalítica, ateliê clínico, dissociação teórico-clínica,
integração teórico-clínica
Ao longo de seis anos, a autora acompanhou o trabalho com um garoto
que condensa várias interseccionalidades – um menino negro, sem família, com
questões de saúde mental, classe e gênero – e é aluno regular do ateliescola acaia.
Aqui ela reflete sobre a complexidade de um processo psicanalítico em outros contextos.
Em um ambiente multidisciplinar, onde a equipe de educadores ocupa um
lugar central, com apoio da escuta psicanalítica, são desenvolvidos dispositivos clínicos
que podem estar em consonância com o tipo de sofrimento em jogo, quando
escutamos pessoas que vivem imersas em um caldo de violência e invisibilidade.
Palavras-chave: extensão da clínica, dispositivos clínicos, desenraizamento,
instituição
não disponível
não disponível
O autor explora o conceito ferencziano de identificação com o agressor,
efeito do trauma psíquico, indicando três de suas vicissitudes: o amor submisso, o
ódio destrutivo e o auto-ódio. Examina mais detidamente o destino do auto-ódio,
ilustrando-o com o complexo de vira-lata, assim nomeado pelo escritor brasileiro
Nelson Rodrigues, junto a trechos biográficos relativos ao antissemitismo experimentado
por Freud e por seu pai, Jacob. Além disso, aponta uma associação
inédita entre a teoria do trauma de Ferenczi e os estudos freudianos sobre o Witz
(espirituosidade), tomando como referência a publicação Os chistes e sua relação
com o inconsciente. Finalmente, tece considerações acerca da pulsão de repouso
(Ruhetrieb), formulada por Sándor Ferenczi em seu Diário clínico.
Palavras-chave: trauma psíquico, antissemitismo, identificação com o agressor,
auto-ódio, pulsão de repouso
Este artigo, inédito em português, resulta de uma conferência dada em
1986 e apresenta um resumo ao mesmo tempo denso e claro do pensamento de
Piera Aulagnier em confronto com os paradigmas do autismo e das psicoses precoces.
A autora busca compreender e representar o início da vida psíquica no jogo
complexo que é instaurado entre a mãe e o infans. Do lado da psique materna, o
Eu da criança é previamente identificado e investido, antes mesmo de vir ao mundo.
Do lado da criança, há uma necessidade vital de encontrar um compromisso
identificatório entre essa identificação parental e sua própria autoconstrução. É a
possibilidade – ou não – de introduzir uma diferença entre essa antecipação e sua
própria trajetória identificatória que determinará sua resposta diante daquilo que
Piera Aulagnier caracteriza como violência fundamental. Se nenhuma diferença
ou nenhuma mudança for possível na construção que lhe é imposta, pode-se organizar
uma potencialidade psicótica ou uma psicose infantil. É também na impossibilidade
de um jogo suficientemente móvel desse edifício identificatório que
qualquer movimento por parte do entorno – ainda que mínimo, mas imprevisto
– pode vir a provocar um colapso.
Palavras-chave: autismo, psicose precoce, potencialidade psicótica, problemática
identificatória
A autora considera o trabalho com a comunidade desenvolvido por
Anna Freud na Viena dos anos 1920 e 1930. Aponta sua parceria com figuras como
August Aichhorn, Siegfried Bernfeld, Willi Hoffer e sua companheira de vida, a
nova-iorquina Dorothy Tiffany Burlingham. Explora especialmente as ideias fomentadas
no periódico Zeitschrift für Psychoanalytische Pädagogik e os serviços
prestados na Creche Jackson e nos Beratungsstelle, centros de aconselhamento
educacional e juvenil.
Palavras-chave: Anna Freud, Viena Vermelha, psicanálise comunitária, análise
infantil
A partir de uma trajetória artística marcada pela pesquisa em torno da
autorrepresentação e do uso do documento na cena contemporânea, a autora propõe
uma reflexão sobre os atravessamentos entre arte e psicanálise e a elaboração
do trauma por meio de processos criativos. Se, por um lado, a linguagem artística
mostra-se um território fecundo para o entrelaçamento da experiência pessoal e
da criação poética, tangenciando o limite entre arte e vida – tão caro à arte contemporânea
–, por outro, o inflacionamento das poéticas do eu, baseadas em um
regime de extimidade e certo imperativo de transparência das identidades, exige
um esforço de revisão crítica diante de um esgotamento não apenas formal, mas
também subjetivo.
Palavras-chave: autobiografia, teatro documental, trauma, real
Resenhado por:
Luciane Falcão