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Volume 46 nº 1 - 2012 | Ética e psicanálise

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Editorial

“É, suponho que é em mim, como um dos representantes de nós, que devo buscar por que está doendo a morte de um facínora. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que mataram mineirinho do que seus crimes.” Clarice Lispector (1964, p. 252).

Com estas palavras um tanto desconcertantes Clarice Lispector inicia sua crônica “Mineirinho”, uma reflexão aguda sobre a ética, a moral e a justiça a partir da execução de um criminoso. Uma interrogação sobre o desejo assassino, a lei, a transgressão, a violência no outro e em nós; desse modo adentra, com a sofisticação e a crueza inerentes à sua escrita, no território da moral, do frágil tecido que sustenta a ideia de civilização tão esgarçada pela barbárie do nosso cotidiano.
Voltemos a Clarice Lispector:

Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto, desassossegada, no quinto e sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro me assassina – porque eu sou o outro. Porque quero ser o outro. (p. 252)

Esta é a lei. O imperativo moral. Não matarás! Esta a transgressão e esta a justiça do justiceiro. “Esta justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada, por precisar dela…. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos. Até que treze tiros nos acordam…” (p. 252).

Para os antigos (os gregos) “a ética, cujo modo era a virtude e cujo m era a felicidade, realizava-se pelo comportamento virtuoso entendido como ação em conformidade coma natureza do agente (seu ethos) e dos ns buscados por ele” (Chauí, 1992, p. 347.). A virtude ou o comportamento ético é aquele no qual a razão comanda as paixões dando normas e regras à vontade, para que esta possa deliberar corretamente. Com o advento do cristianismo, a ideia do universal é mantida, mas como assinala Hannah Arendt a ideia de liberdade desloca-se do campo político para o interior de cada ser humano. Com essa interiorização instauram-se a moral e a culpa. A ética passa a ser definida em relação a uma vontade transcendental, não mais regulada apenas por uma vontade racional.

Com o advento da modernidade, profundas transformações ocorrem no campo da subjetividade; cabe destacar o que Weber chama de “desencantamento do mundo”. O centro ordenador transcendental, seja do cosmos antigo ou da providência, perde força e será substituído pelas ideias de processo civilizatório, cultura e história, que ditarão os padrões para uma nova ética cujo centro passará a ser relativizado e, nesse sentido, mais frágil e precário (Chauí, 1992).

É nesse novo cenário que emerge a descoberta freudiana. A tensão permanente que Freud assinala a partir da formulação da segunda tópica entre as demandas do id e as barreiras impostas pelo supereu; o conito identificatório no campo do narcisismo e dos ideais inauguram um novo modelo para ampliar a reflexão em torno da possibilidade ética do sujeito moderno. Hoje, mais do que em outros momentos da cultura ocidental, parece haver algo que escapa ao tabu do incesto, ao não matarás, à formação do supereu como instância interiorizada. Há a falha, a fratura, o erro, o abominável. No dizer de Kehl: “Excluído da possibilidade de simbolização, o mal-estar silenciado acaba por se manifestar em atos que
devem ser decifrados, de maneira análoga aos sintomas daqueles que buscam a clínica psicanalítica”(2009, p. 25).

Atualmente vivemos aspectos intrusivos de uma cultura na qual as formas de poder aparecem mais difusas, mas nem por isso menos esmagadora (consumo, narcisismos, controle, mecanismo de gozo etc.), e produzem efeitos na construção dos ideais, das identificações. Sabemos que pensar e agir eticamente ultrapassa a esfera do eu para nos lançar ao encontro do outro, mas identificam-se sinais de nova moral para o supereu através da qual a ética como campo de contato com a alteridade parece estar comprometida. Novos desafios nos convocam se nos deixamos atingir pela diferença e alteridade.

Para nós, analistas, o desafio não é pequeno, estamos mergulhados nessa mesma cultura. A sociedade, suas instituições e, consequentemente, a clínica na qual trabalhamos são povoadas de vítimas e justiceiros. Alguns dos grandes pensadores da psicanálise vêm nos alertando, já há algum tempo, sobre os limites da palavra e do simbólico.

O pensamento clínico contemporâneo com a ênfase outorgada ao lugar do outro materno (papel do objeto: Winnicott, Bion, Lacan, Laplanche, Green e outros) na constituição subjetiva coloca a ética do objeto primário no horizonte da reflexão clínica da psicanálise, de onde derivamos também a urgência de uma reflexão em torno da ética na clínica atual dado as importantes transformações (1) do lugar do analista.

Desejo, poder e transgressão entrelaçam-se dinamicamente tanto em nossas instituições como na formação de novos analistas, e em nosso trabalho clínico, a partir da transferência e contratransferência, o que requer uma atenção redobrada de nossa parte. Mergulhados no nosso fazer cotidiano, estamos sujeitos às quebras e atos justiceiros que denunciam essas formas de poder e intrusão ainda pouco conhecidas e teorizadas na clínica e na vida institucional do psicanalista.

Os trabalhos temáticos que compõem este número vêm de psicanalistas de diferentes regiões do Brasil, também de outros continentes e outros campos do conhecimento(filosofia, medicina, direito). Trazem perspectivas diversas e nos convocam ao debate e à reflexão, vêm perturbar o nosso sono, nossos lugares de conforto. Compõem um mosaico articulado no qual se evidenciam o que Viviane Sprinz Mondrzak chama de “invariantes em ética psicanalítica”, quando mergulha no miolo da experiência psicanalítica convidando a uma reflexão da identidade e função do psicanalista. Ester Sandler mostra-nos com bastante precisão como Freud, Klein e Bion explicitaram a importância de sinalizar de modos diferentes e complementares as vicissitudes da construção do sujeito ético, suas raízes nos processos inconscientes, a importância da intersubjetividade assinalando o lugar que estas questões ocupam no seio da experiência analítica. Ancorada em Money-Kyrle ela indaga a relação entre o singular e o universal, abre o palco para um debate fértil sobre nossa prática, a formação e a vida institucional do psicanalista, assim como os temas mais amplos da nossa vida em comunidade. Edna Vilete, em um trabalho de extrema sensibilidade clínica, aborda o tema da ética, tendo como base a contribuição de Winnicott, quando reflete sobre a transformação do lugar do analista na clínica com pacientes borderline: “Nenhum encargo, porém, é mais pesado ao analista do que sua responsabilidade na falha inevitável que comete durante o processo de uma análise, levando o paciente a reviver a situação de fracasso do ambiente original, causa de suas reações de defesa e das distorções do seu self”. Já Leonardo Francischelli nos traz um trabalho de amplo espectro, que, ao transitar pela relação da psicanálise com a cultura contemporânea, aproxima-se gradualmente do exercício clínico da psicanálise atual, concluindo seu texto com um convite a uma indagação ética sobre o destino do lugar da ausência e o modelo da abstinência no contexto dos novos lugares que o analista passa a ocupar no manejo da transferência. Essas questões são também tratadas no trabalho “Ética e moral na psicanálise”, de Jose Milmaniene, membro da Associação Psicanalítica Argentina e convidado para integrar este número em reconhecimento a uma vasta obra publicada em livros e artigos. Milmaniene atenta para o exercício da psicanálise em um contexto no qual o ataque à ordem sociossimbólica instaura um campo de “gozos pulsionais indiscriminados e perda do respeito ético pela alteridade”.

Prestamos homenagem póstuma neste número à querida Sonia Curvo de Azambuja, analista didata da SBPSP, que recentemente nos deixou. Para aqueles que não tiveram o privilegio de conhecê-la, lembramos que Sonia foi uma psicanalista apaixonada, dona de um pensamento criativo e vigoroso. Defensora de uma psicanálise plural, ela conseguia dialogar com as diferentes concepções vigentes na atualidade sem perder o fio condutor originado no seu profundo conhecimento do edifício freudiano. Trazia para nossa reflexão em seminários e escritos o vasto conhecimento da alma humana que emanava uma prática clínica viva e instigante, do seu enorme conhecimento da filosofia, cinema e literatura. Um espírito livre e
incansável, promotora de uma reflexão sobre o exercício ético da psicanálise e da formação de analistas, como testemunha a “Carta a um jovem psicanalista” que aqui publicamos.

Nos ricos debates que animaram a equipe editorial na preparação deste número, tomamos conhecimento que a Sociedade Psicanalítica de Paris (SPP) tinha organizado um colóquio em 2010, cujo tema foi L’éthique du psychanalyste. Como no pensar do Zeitgeist, o que nos afeta nos constitui. Tomamos a iniciativa de contatar Bernard Chervet, presidente da SPP, e o convidamos para uma entrevista sobre o tema, que foi realizada em Paris por Rogério Coelho de Souza a partir de questões formuladas pela nossa equipe editorial, e que publicamos na seção Intercâmbios. Acreditamos que os leitores brasileiros sentir-se-ão mobilizados e identificados com as inquietantes questões tratadas.

A riqueza dessa reflexão em torno da ética se complementa com os instigantes e sólidos argumentos apresentados nos trabalhos da Interface, nos quais os renomados professores Osvaldo Giacoia Junior, filósofo, Reinaldo Ayer de Oliveira, médico, e Fabio Konder Comparato, jurista, desde seus respectivos campos de conhecimento apontam para a importância crucial de uma transdisciplinaridade (2) quando tratamos da complexidade da dimensão ética da nossa existência no mundo atual.

Por último, mas não menos importante, contamos com os trabalhos de Elias Mallet da Rocha Barros e Elizabeth Lima da Rocha Barros, Jair Kijink et col. e Marion Minerbo, cujas atualidades clínicas e rigorosa fundamentação teórica apontam mais uma vez para a já consagrada qualidade do pensamento clínico no Brasil.

Convidamos a todos os nossos leitores a visitarem e transitarem também pelas resenhas e seção de lançamentos que nos mantêm atualizados com a rica produção no nosso campo.

Concluo este editorial com a convicção de que procuramos neste número ser fiéis às palavras de Clarice Lispector presentes na sua crônica “Mineirinho”: “Porque quem entende desorganiza”.

Bernardo Tanis
Editor

Referências:
Chauí, M. (1992). Público, privado e despotismo. (pp. 345-399). In Ética. Adauto Novaes (Org.). São Paulo:Companhia das Letras.

Kehl, M. R. (2009). O tempo e o cão. (p. 25). São Paulo: Boitempo.

Lispector, C. (1964) Mineirinho. (p. 252). In A legião estrangeira. Rio de Janeiro: Editora do Autor.

(1) Ver Revista Brasileira de Psicanálise, 44(2), 2010, cujo título é “Variações e fundamentos”.
(2) “A transdisciplinaridade não procura a mestria de várias disciplinas, mas a abertura de todas as disciplinas ao que as une e as ultrapassa.” Carta da transdisciplinaridade, I Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, Arrábida, Portugal (1994).

Artigos temáticos: Ética e Psicanálise

: A autora busca neste artigo refletir sobre qual seria seu modelo de analista ético ideal, procurando localizar os “invariantes em ética psicanalítica”, aquilo que seria imprescindível para caracterizar uma conduta ética em qualquer época e cultura. Entre outros aspectos, ela destaca a capacidade de ter consideração pelo outro, o amor à verdade e a capacidade de ser neutro. Detém-se na discussão de neutralidade como um qualitativo essencial da identidade psicanalítica e da função de um analista, no compromisso (ético) de usar a sugestão de uma maneira específica, renunciando a qualquer forma de poder autoritário sobre o paciente e utilizando o poder que sua posição lhe confere, para tornar possível ao paciente tomar contato com sua realidade psíquica, garantindo que as várias vozes internas possam se manifestar com suas versões, seus medos, seus argumentos e levantando a possibilidade de melhores acertos e negociações. São também discutidas algumas questões referentes ao tema da transgressão para um analista.

Palavras-chave: ética; neutralidade; verdade; transgressão; alteridade.

O autor afirma que a defecção estrutural da figura do pai com a consequente degradação da Lei sociossimbólica, assentada sobre os Dez mandamentos bíblicos, implicou uma séria perda das referências e dos valores éticos. Em consequência do colapso da legalidade, instala-se uma ordem em que predominam, pelas políticas de gozo marcadas pelo masoquismo, a sexualidade fetichista- -masturbatória, a agressividade especular, a violência segregativa e o consumo compulsivo dos objetos aditivos. O autor aponta a importância da postura ética do analista e discrimina, nesse sentido, a neutralidade ideológica da abstinência ética. São também descritos os extravios e as imposturas que derivam de todas as políticas que reivindicam o gozo para além da Lei simbólica. No texto é destacado o fato de que o ataque à ordem normativa sociossimbólica procura substituir a Lei que inscreve diferenças pela arbitrariedade de um sistema caracterizado pela exaltação dos gozos pulsionais indiscriminados e pela perda do respeito ético pela alteridade.

Palavras-chave: gozo; Lei paterna; diferença sexual; pulsão; ética; superego; narcisismo.

A conjunção psicanálise e ética gera um amplo leque de possibilidades para reflexão, um diálogo que data de longo tempo e não pode ser perdido de vista. Procuro neste trabalho acompanhar algumas contribuições da psicanálise no campo, considerando inicialmente as relações entre esta e filosofia. Revejo as principais ideias relativas à gênese da moralidade, o papel desempenhado pela civilização, pelas principais teorias sobre ansiedade e culpa. Examino, finalmente, a pertinência da discussão ética nas três dimensões em que Freud definiu a psicanálise.

Palavras-chave: psicanálise; ética; ansiedade; culpa; civilização.

O autor procura, em seis pequenos capítulos, desenhar uma visão pessoal sobre o ato de psicanalisar nos dias atuais. Parte de alguns conceitos básicos de Freud, como “abstinência” e também a “metáfora do cirurgião”, nos quais não é a neutralidade que se encontra em jogo, mas a arte de curar. Além desses conceitos fundacionais da psicanálise, o trabalho destaca dois momentos da construção teórica de Freud, em que o papel da ausência do objeto ocupa um lugar fundamental no desenvolvimento do aparelho psíquico do homem. Refere-se à “experiência de satisfação” e ao “jogo do carretel”, em que a não presença do objeto estimula o crescimento do imaginário e da linguagem, respectivamente. Esboça também uma construção do enquadre, destacando o papel das entrevistas, contrato e transferência como os operadores fundamentais para colocar alguém em uma viagem analítica. Em relação à transferência, apoia-se em Lacan para, justamente, discutir a excessiva presença do analista na sala de análise, gerando a chamada transferência dual, ou seja, o trabalho analítico somente operando no campo imaginário. O autor acredita que essa técnica bloquearia a triangulação na sessão analítica e, na concepção tanto freudiana como lacaniana, o complexo de Édipo e seu correlato, o complexo de castração, são presenças imprescindíveis à cura. Por último, expõe aquilo que se poderia chamar de uma questão dialética, entre os partidários do campo da ciência dura, representado pelas neurociências e aqueles que se opõem a esse determinismo neurobiológico. O texto encaminha para uma discussão aprofundada, toda a problemática que envolve as neurociências e a psicanálise, pois, segundo afirma o trabalho, ambas são, em alguma medida, incompatíveis, ou melhor, são como a água e o azeite: convivem, porém a mistura não acontece.

Palavras-chave: abstinência; regras da arte, ausência; presença enquadre; movimento; dispersão; peste.

A autora apresenta um novo aspecto da técnica psicanalítica, dirigida aos pacientes psicóticos e borderlines. Ela desenvolve o conceito de Winnicott sobre as falhas do analista, no campo da transferência-contratransferência, e revela suas próprias falhas no tratamento de dois pacientes.

Palavras-chave: pacientes psicóticos e borderlines; falhas do analista.

A autora inicia seu trabalho falando da sua inspiração no poeta Rainer Marie Rilke. A partir daí vai situar a questão da paixão de onde somos fisgados e inconscientemente engendramos as nossas vocações. Como o poeta, também se dirige ao jovem analista e ao percurso na formação que, segundo seu entendimento, enraíza-se no Édipo. Aí encontra a construção do próprio aparelho psíquico, no qual o dentro e o fora estão implicados (ego ideal e ideal do ego). Vê uma invariância na questão edípica, que é atravessada historicamente por diferentes culturas, sofre flutuações, mudanças e tropeços, mas permanece como uma pedra de toque fundamental da psicanálise e da formação analítica. Após girar em torno desse eixo, mostra o Édipo não como uma armadura defensiva para nossa subjetividade, mas como um jogo de dados, onde as jogadas se sucedem com as imagos inconscientes, num caminho que nunca se fecha.

Palavras-chave: paixão; vocação; ego ideal/ideal do ego; Édipo; ética; clinâmen; imperativo categórico; angústia; solidão; identidade; trágico.

Interface

: Este trabalho elabora questões éticas centrais no pensamento de Friedrich Nietzsche, valendo-se de uma perspectiva zen-budista, para a qual experiência e vivência são mais relevantes que especulação e teoria. A mediação da filosofia zen-budista permite interpretar conceitos como repetição, lembrança, liberdade, ressentimento e sentimento de culpa com base nas dimensões vivenciais da existência, e aproximar, no plano da ética, teoria filosófica e experiência psicanalítica pela via dos conceitos de compulsão à repetição, devir-sujeito e responsabilidade. Para essa tarefa contribuem tanto os insights do pensamento zen-budista quanto a ironia filosófica de Sören Kierkegaard, fecundando o diálogo entre a metapsicologia de Freud e a ética de Nietzsche.

Palavras-chave: ética; retorno; repetição; compulsão; subjetividade; liberdade; responsabilidade; sentimento de culpa.

A bioética surgiu na década de 70 do século passado como um fenômeno cultural que procurou atender aos desafios éticos decorrentes dos avanços científicos e tecnológicos dentro da biologia e da medicina (a biomedicina). Desde o início, a bioética procurou ressaltar que, se existiam dois aspectos da cultura humana (ciência e humanidades) que pareciam incapazes de falar um com o outro, deveria haver uma disciplina capaz de acompanhar o desenvolvimento científico à luz da ética. O texto procura caracterizar o desenvolvimento da bioética como uma disciplina em um contexto histórico e seguindo uma cronologia. As principais formulações teóricas e os eventos marcantes são apresentados em seus aspectos fundamentais, descrevendo-se, ao final, a bioética das relações. Entendemos a bioética das relações como parte da percepção de que todo ser humano é interativo, pois a humanização do indivíduo ocorre a partir do momento em que ele toma consciência do convívio social.

Palavras-chave: bioética; conceitos; desenvolvimento.

O capitalismo se revelou, no mundo contemporâneo, não apenas um sistema econômico, mas uma autêntica civilização, mais exatamente a primeira civilização mundial da história. Em radical oposição a todas as civilizações que o precederam, o capitalismo engendrou nas sociedades uma mentalidade ética anticomunitária, fundada no egoísmo materialista, na superposição do interesse privado ao bem público e na utilização do poder econômico de forma disfarçada ou oculta.

Palavras-chave: ética; poder; civilização; capitalismo; mentalidade.

Artigos

Os autores traçam uma história dos conceitos de contratransferência e de revêrie desde suas introduções, associando-os aos novos conceitos psicanalíticos correlatos que foram sendo introduzidos e exigiram sua redefinição. Em seguida descrevem o processo que permeia a constituição da contratransferência e, sobretudo, o papel da evocação. Sonhos, narrativas e suas expressões atuadas evocam em nós metáforas que combinam articulações discursivas e não discursivas que dão forma aos sentimentos que estão sendo projetados em nós na transferência. Nós, ao interpretarmos, colocamos essas experiências evocadas numa outra base simbólica, ou seja, transmutamos a linguagem evocativa dos símbolos visuais do sonho ou das metáforas, ou ainda das vivências expressivas da contratransferência, em linguagem verbal descritiva de significados e, desta maneira, ampliamos a capacidade de pensar a experiência ao atribuirmos significado aos sentimentos envolvidos. Os trabalhos de Ogden sobre revêrie são discutidos e considerados seminais na elaboração do conceito de revêrie da forma como o utilizamos hoje.

Palavras-chave: contratransferência, revêrie; conter, evocação, expressividade, simbolismo; Ogden; Langer.

Os autores refletem acerca do conceito de campo analítico e do exame do valor comunicativo de um de seus elementos, a surpresa, a partir de uma vinheta clínica.

Palavras-chave: campo analítico; baluarte; surpresa; comunicação.

A corrupção praticada pelo sujeito que nada teme pode ser vista como sintoma de certo tipo de loucura – no sentido da hybris – relacionada ao excesso de poder, porém determinada por um campo transferencial. Neste, as identificações complementares “poderoso”/“intimidado” se potencializam reciprocamente, até que o campo transferencial constituído pela criança-no-adulto de ambos acabe por enlouquecer os dois. O primeiro passa a sentir que pode tudo. O segundo, intimidado, subserviente e siderado, não se autoriza a sinalizar ao primeiro os limites da sua onipotência.

Palavras-chave: corrupção; poder; loucura; campo transferencial; pacto social.

Intercâmbio

Resenhas