Volumes

Volume 49 nº 4 - 2015 | XXV Congresso Brasileiro de Psicanálise - Metapsicologia e trabalhos premiados

Sumário (Clique nos títulos para acessar editorial ou resumos disponíveis)

Editorial

Em 2013, o escritor mineiro Luiz Ruffato iniciou o seu discurso na abertura da Feira do Livro de Frankfurt com a seguinte pergunta: “O que significa ser escritor num país situado na periferia do mundo, um lugar onde o termo ‘capitalismo selvagem’ definitivamente não é uma metáfora?” Ou seja, em meio à crueza das desigualdades sociais e de vivências muitas vezes brutais, quais são as possibilidades de representação?

Ele concluiu reafirmando o papel transformador da literatura, ainda que suspeitando de sua própria ingenuidade:

Filho de uma lavadeira analfabeta e de um pipoqueiro semianalfabeto, eu mesmo pipoqueiro […] tive meu destino modificado pelo contato, embora fortuito, com os livros. E se a leitura de um livro pode alterar o rumo da vida de uma pessoa, e sendo a sociedade feita de pessoas, então a literatura pode mudar a sociedade.

Ora, a literatura é lugar privilegiado da ficção, da metáfora, da representação e do uso das palavras para nomear o vivido, o pensar, o desejo. Neste sentido, é aparentada à psicanálise. Afinal, é trabalho do aparato psíquico transformar as pulsões em linguagem, em representação – esta, um conceito fundamental na teoria psicanalítica.

É o que nos encaminha ao tema do XXV Congresso Brasileiro de Psicanálise: Ato/Sonho:a representação e seus limites. Tendo como pano de fundo a comemoração dos 100 anos de publicação dos artigos metapsicológicos, o congresso trouxe à discussão o modelo de vida psíquica que dá ênfase à contenção dos impulsos pelas possibilidades de representação das experiências na vida de cada um. Encontrar, a partir de dentro, um lugar possível, uma palavra possível.

Dos doze escritos freudianos, cinco foram publicados: “As pulsões e seus destinos”, “A repressão”, “O inconsciente”, “Suplemento metapsicológico à teoria dos sonhos” e “Luto e melancolia”. Trabalho de elaboração de um projeto de estruturação conceitual dos processos psíquicos, mas também da elaboração de um termo, citado pela primeira vez em carta a Fliess, de 1896: “Tenho-me ocupado continuamente com a psicologia – na verdade, com a metapsicologia” (Freud, 1950[1896]/1969b, p. 278).

Em março de 1898, Freud expõe ao amigo o seu desejo de, partindo do cerne do exercício da psicanálise, ir além. Sua insatisfação quanto à sustentação da ideia do ainda não publicado A interpretação dos sonhos (1900/1969e), de que sonhos são a realização de desejos  inconscientes,

leva-o a buscar a metafísica, ou seja, buscar algo que transcenda a observação do sensível e que fundamente conceitualmente. E aqui que propõe a Fliess o uso do nome metapsicologia “para a minha psicologia que vai além da consciência” (Freud, 1950[1898]/1969c, p. 369). Este termo só conquista definição anos mais tarde, quando afirma, em “O inconsciente”: “Proponho que, quando tivermos conseguido descrever um processo psíquico em seus aspectos dinâmico, topográfico e econômico, passemos a nos referir a isso como uma apresentação metapsicológica” (Freud, 1915/1969d, p. 208).

Os textos metapsicológicos firmam o campo da psicanálise como o de um saber com especificidade própria, distanciando-se das vertentes psicológicas e biológicas da compreensão humana. Um lugar fora do âmbito da ciência, algo que apenas mais a frente, em 1933, Freud confessa à poetisa Hilda Doolittle, sua analisanda: “Minhas descobertas são a base para uma relevante filosofia” (Doolittle, 2012, p. 51).

Sim, porque a psicanálise não supõe uma observação nos moldes científicos; e uma observação que se sustenta em um aspecto ficcional – uma “ficção teórica” ou uma fantasia.

Por isso, em 1937, ao questionar a eficácia da “terapia analítica”, e no esforço para pensar em como a força pulsional estabelece uma harmonia com o ego, Freud vai à literatura e cita Goethe: “Temos que chamar a Feiticeira em nosso auxílio, afinal de contas!” (Freud, 1937/1969a, p. 257). A metapsicologia feiticeira, mesmo chamada a auxiliar, mostra que o trabalho não é simples, pois “infelizmente aqui, como alhures, o que a Feiticeira nos revela não é muito claro nem muito minucioso” (p. 257). Mas o que Freud indica com firmeza é que “sem especulação e teorização metapsicológica – quase disse fantasiar – não daremos outro passo à frente” (p. 257).

Não podemos esquecer que 1915 também é o ano no qual Freud escreve “Reflexão para os tempos de guerra e morte” (1915/1969f) e o belíssimo “Sobre a transitoriedade” (1915/1969g), uma preparação para a guinada teórica do pós-guerra, quando introduz a dualidade pulsional. Portanto, a preocupação de Freud já se concentrava em como inibir os aspectos destruidores da pulsão de morte e controlar seus efeitos destrutivos.

Se pulsão e representação constituem-se em correlação, como a cultura (ou a civilização) pode mitigar a natureza interna e externa, ou como pode favorecer sua eclosão? Como podemos pensar, hoje, a questão do sonho, da representação e da propensão ao ato?

Convém, então, retomar o discurso de Luiz Ruffato, que propõe a literatura como possibilidade de contenção da barbárie, de desenvolvimento pessoal e social; que evoca a força presente nas representações, nos devaneios oníricos, na ficção, no “quase disse fantasiar”, como afirma Freud.

Afinal, foi o que Freud fez na construção de sua “ficção teórica”. E o fez porque pôde sonhar, talvez à maneira dos escritores e poetas, aqueles por quem nutria um profundo interesse. Foi o que o transformou em um “pesquisador-poeta”, nas palavras de Pontalis e Mango (2013). E como aquele que se inseriu com a figura criadora do poeta no campo do saber científico, inaugurou uma nova maneira de conhecer o ser humano.

Assim encerramos nosso primeiro ano de editoria. E com alegria, comemorando o XXV Congresso Brasileiro de Psicanálise com a contribuição de Daniel Delouya, Ignácio Alves Paim Filho, Sandra Lorenzon Schaffa e Celmy de A. A. Quilelli Corrêa, e a publicação dos trabalhos premiados.

Lembramos a todos que a divulgação de nosso projeto editorial para 2016 é um convite à participação, para que a revista possa de fato ser representativa da psicanálise brasileira. E que continuamos abertos para receber artigos não temáticos.

 

Um grande abraço!

 

Silvana Rea

Editora

 

Referências

Doolittle, H. (2012). Por amor a Freud (P. Maia, Trad.). Rio de Janeiro: Zahar.

Freud, S. (1969a). Análise terminável e interminável. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, Trad.,Vol. 23, pp. 239-288). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1937)

Freud, S. (1969b). Carta 46. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, Trad., Vol. 1, pp. 207-226). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1950[1896])

Freud, S. (1969c). Carta 84. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, Trad., Vol. 1, pp. 369-370). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1950[1898])

Freud, S. (1969d). O inconsciente. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, Trad., Vol. 14, pp. 185-248). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1915)

Freud, S. (1969e). A interpretação do sonhos. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, Trad., Vol. 4). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1900)

Freud, S. (1969f). Reflexão para os tempos de guerra e morte. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão,Trad., Vol. 14, pp. 311-318). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1915)

Freud, S. (1969g). Sobre a transitoriedade. In S. Freud,Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, Trad., Vol. 14, pp. 345-350). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1915)

Ruffato, L. (2013). [Discurso na Feira do Livro de Frankfurt]. Recuperado em 8 dez. 2015, de cultura.estadao.com.br.

Pontalis, J.-B. & Mango, E. G. (2013). Freud com os escritores (A. Telles, Trad.). São Paulo: Três Estrelas.

Em pauta

O autor segue os passos da construção da noção de metapsicologia, expondo nela o método da descoberta, próprio à psicanálise. Para tanto, adentra algumas passagens do primeiro ensaio da metapsicologia de 1915. A pulsão como conceito-limite é problematizada em relação à constituição de nosso conhecimento. E, também, como sendo a condição de possibilidade da abertura da pulsão ao trabalho do objeto. Este participa no engendramento dos representantes da pulsão, implicando-se nos destinos de seus fins para a construção da malha de representações que constituem a vida psíquica. O trabalho discute as consequências da implicação do objeto na configuração clínica de paranoia feminina, agregando outro ensaio de Freud, do mesmo ano em que se empenha em redigir uma coletânea da metapsicologia.
Palavras-chave: metapsicologia; pulsão; conceito-limite; representante; trabalho do objeto.

Este texto tem por objetivo fazer uma contextualização dos 120 anos da metapsicologia freudiana – nossa perene pedra angular. Para realizar tal meta, toma por interlocutor os centenários textos metapsicológicos de 1915. Sendo assim, discorre sobre sua pré-história, história e, por último, os desdobramentos da história. Diante desse contexto, acredita ter criado condições para legitimá-la como fonte fecunda na exploração das profundezas do Acheronta do ser contemporâneo.
Palavras-chave: metapsicologia; pulsão; representação; irrepresentável.

Este artigo propõe-se a considerar os destinos da teoria freudiana cem anos depois da publicação dos escritos metapsicológicos. Discute a tendência voltada para uma psicanálise mais leve, próxima da clínica, correlativa ao abandono do solo da sexualidade infantil e da teoria das pulsões. Interroga as consequências dos remanejamentos que o dispositivo analítico sofreu uma vez transposto o horizonte epistemológico em que foi pensado por Freud.
Palavras-chave: metapsicologia; pulsão; clínica atual; retorno a Freud.

A autora saúda a iniciativa do congresso em iluminar os textos metapsicológicos como palco de diálogo com a clínica, a técnica e a cultura. Examinando o contexto histórico brasileiro, formula hipóteses para avaliar a predominância de alguns conceitos no ensino da metapsicologia. Refere pesquisa que vincula a “virada de 1920” à influência do romantismo germânico no pensamento de Freud, como possibilidade de acesso ao misterioso e irracional dos últimos textos freudianos. Sugere que os conceitos de pulsão de morte, identificação primária, desamparo, masoquismo primário, construções e feminilidade podem escapar ao impasse da racionalidade iluminista quando se convoca a “feiticeira metapsicológica”.
Palavras-chave: metapsicologia; campo; palco inconsciente; segunda teoria pulsional; romantismo germânico.

Trabalhos premiados

A autora esboça uma teoria sobre a constituição do supereu cruel na qual o inconsciente do objeto primário tem um papel preponderante. Em função da angústia ligada a seu núcleo paranoico, o objeto defende seu narcisismo atacando, inconscientemente, o narcisismo do infans com elementos-beta que podem ser caracterizados como tanáticos. O psiquismo em formação se defende desse ataque por meio de duas defesas primárias, a clivagem e a identificação com o agressor, que originam o núcleo psicótico a que chamamos supereu cruel. Dois fragmentos clínicos são usados para tentar reconhecer quais são e como agem os elementos-beta tanáticos. O primeiro permite identificar uma forma de abuso psíquico na qual o objeto obriga a criança a “pagar a conta” do trabalho psíquico que não consegue realizar. O segundo revela a relação entre as características do supereu cruel (ódio ao eu, controle tirânico, falta de empatia) e a intolerância do aspecto paranoico do objeto às manifestações da subjetividade do infans.
Palavras-chave: supereu cruel; elementos-beta; clivagem; identificação com o agressor; núcleo paranoico.

A autora procura apresentar e comparar alguns aspectos do pensamento de Cassirer e do de Bion sobre a existência e a formação de um sistema simbólico na mente do homem.
Mais especificamente, busca localizar e resgatar o conceito de símbolo na obra de Bion O aprender com a experiência, bem como a complexidade desse conceito e sua importância no intricado trabalho de psicanálise. Além disso, são apresentadas algumas considerações sobre as dificuldades para a aquisição e expansão desse universo simbólico, e também sobre algumas particularidades de nossa cultura atual que parecem não colaborar para esse processo de desenvolvimento, ao menos na forma como estamos habituados a pensá-lo.
Palavras-chave: psicanálise; símbolo; universo simbólico; linguagem; palavras.

A autora fala da dificuldade no atendimento de alguns casos difíceis e da necessidade da escrita do analista para a elaboração posterior de aspectos contratransferenciais e sua utilização nestes atendimentos. Traz um caso de uma paciente terminal, que vive uma doença dramática e usa a análise para tentar manter-se minimamente organizada. Fica evidente o enorme trabalho psíquico que deverá ser feito pela dupla, analista e analisando, para lidar com a morte próxima da paciente, quando passa a haver uma grande expansão libidinal, assim como um aumento do seu apetite relacional, enquanto se desenvolve uma relação transferencial profundamente regressiva, exigindo do analista uma boa capacidade de rêverie.
Palavras-chave: psicossomática; paciente difícil; aspectos transferenciais e contratransferenciais; intervenções não usuais.

A autora reflete acerca do constante trabalho de luto imposto aos analistas pelas incessantes demandas de ligação e desligamento que envolvem a clínica. Tece um paralelo com o poema de Elizabeth Bishop “One art”, no qual o impacto das perdas é sempre minimizado, e questiona-se se há possibilidade de abrandamento desse impacto via o desinvestimento, como sugere a poesia. Enfatiza a inevitabilidade da dor despertada pela ausência do objeto, a não anestesia, e sinaliza a importância de um outro como presença ulterior que possa ser evocada na dor – uma vez que se tenha constituído como marca. Um fragmento clínico é relatado para indicar como o trabalho de luto na analista no decorrer de uma sessão abriu a possibilidade de enlaçamento do traumático pela via representacional e permitiu a retomada de sua escuta. Conclui, então, que dispor-se a traumatizar-se é o ofício de um analista.
Palavras-chave: transitoriedade; perdas; luto; representação.

As noções de consciente e inconsciente acarretam uma temporalidade heterogênea, presente em diversas expressões do psiquismo. Essa heterogeneidade do tempo se tornou ainda mais complexa com o conceito de Nachträglichkeit, cunhado por Freud e mais conhecido pela expressão francesa après-coup. O conceito de après-coup transformou as noções de causalidade psíquica e temporalidade, pois se refere a um fenômeno em dois tempos: marcas mnêmicas são remodeladas a partir de fatos posteriores que, por sua relação simbólica com os fatos passados, lhes conferirão sentido e eficácia psíquica. A falta de uma teorização específica por parte de Freud e a presença de diferentes significados para o termo em sua obra, aliadas ao seu desaparecimento dos textos psicanalíticos pós-freudianos até a década de 1950, contribuíram para que o conceito sofresse uma perda da especificidade, sendo seu uso mais comum o de sinônimo de “aquilo que vem depois”. Diferentemente dessa visão, neste trabalho propõe-se um estudo que busca destacar certa especificidade do fenômeno do après-coup, ressaltando seus aspectos traumáticos e transformadores, ponto de vista esse que o diferencia da noção predominante em psicanálise de uma compreensão tardia e retrospectiva.
Palavras-chave: après-coup; trauma; temporalidade; ressignificação.

Outras palavras

O seguinte trabalho explora a constituição do poético na palavra e a sua ausência nas múltiplas situações clínicas que o autor define como situações-limite, caracterizadas pela modificação dos parâmetros fundamentais do tratamento analítico. A ausência do poético dá conta da necessidade de uma linguagem monossêmica, aderente à coisa, da supressão de tudo aquilo que poderia evocar a outra cena, a fim de evitar o reencontro com rastros e experiências perceptivas traumáticas ou destrutivas das dificuldades representativas. O objetivo da análise – reintroduzir o poético por meio da regra fundamental – é duramente posto à prova nesses casos e se supõe a sua redescoberta/constituição por meio da busca de todas as dimensões tradutório-subjetivas que existem, a despeito de cada condição.

Palavras-chave: língua; poético; palavra; situações-limite; subjetivação.

O artigo demonstra haver uma forte ligação entre diferentes afirmações de Fabio Herrmann sobre o quotidiano, o pensamento, o ato e sua ideia de que a ficção é o análogo da psicanálise. Partindo de uma breve investigação sobre os gêneros literários e seus vínculos com a história e com os povos, a autora traça algumas relações entre a modernidade, o romance e o neurótico a fim de empreender uma análise sobre o miniconto, evidenciando sua ligação com as novas patologias e a subjetividade contemporânea.
Palavras-chave: ficção; romance; modernidade; miniconto; novas patologias.

O presente trabalho procura refletir sobre a questão da masculinidade e da feminilidade, como funções mentais, tanto no homem quanto na mulher, já que ambas convivem no interior de nossa vida psíquica, criando, preservando e negando aspectos de cada experiência particular. Propõe expandir essas reflexões apontando que, quando estas funções não estão integradas no interior de nossa vida psíquica, se expressam em rivalidades dentro de nós mesmos, bem como em nossas relações amorosas, fraternas e profissionais, em detrimento do encontro complementar recíproco que suporta a incompletude humana em busca de relações criativas.
Palavras-chave: feminilidade; masculinidade; rivalidade; incompletude;integração.

Diálogo

Tanto no sonho quanto no tratamento analítico, a atividade psíquica fica entregue ao comando do princípio do prazer que, melhor que o eu, sabe se moldar às estruturas do aparelho anímico, a suas falhas, e sabe também tratar delas. O processo primário assim ativado refunda os afetos e as representações inconscientes em redes economicamente
mais satisfatórias.
Palavras-chave: desprazer; regressão; língua; fala; silêncio; trabalho da imagem.

Ponto de vista

O antimonumento, expressão artística contemporânea, trabalha a memória de acontecimentos traumáticos e sua contrapartida, o esquecimento, de maneira bastante peculiar e próxima da experiência psicanalítica. São acontecimentos que muitas vezes não encontram possibilidade de representação, e a eles se dedicam os artistas alemães Horst Hoheisel e Andreas Knitz, assim como a artista brasileira Fulvia Molina. O trabalho destes artistas propõe a quebra da saturação de representação que certos objetos artísticos detêm, pelo convite a que os espectadores o completem com o próprio corpo e memória. Iniciaram, assim, essa nova prática artística, a construção de um monumento vivo, impermanente. Este texto, como se fora um antimonumento, foi elaborado por Cintia Buschinelli a partir de entrevistas realizadas por Silvana Rea com os três artistas e de consulta a um artigo de Márcio Seligmann-Silva. É um texto, portanto, construído por vários autores.
Palavras-chave: memória; esquecimento; representação psíquica; antimonumento; psicanálise e arte.

Resenhas