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Volume 53 nº 4 - 2019 | Suicídio

Sumário (Clique nos títulos para acessar editorial ou resumos disponíveis)

Suicídio1

Fechamos o ano de 2019 com o tema Suicídio, importante para a clínica psicanalítica, para a sociedade em geral e para a esfera das políticas públicas na área de saúde mental.

Na carta-convite, salientamos que o objetivo da equipe editorial neste número era trazer alguma luz para a compreensão do suicídio em nosso tempo. Trata-se de um tema sempre difícil e controverso e, quando mudanças sociais e psíquicas implicam reconfigurações dos laços sociais, a amplitude da questão passa a demandar esforços reflexivos cada vez mais profundos. Assim, convocamos psicanalistas e cientistas sociais a uma refinada análise transdis­ciplinar da subjetividade do ato suicida na contemporaneidade, considerando a contemporaneidade a partir da formulação de Giorgio Agamben: “uma sin­gular relação com o próprio tempo, que adere a este e, ao mesmo tempo, dele toma distâncias; mais precisamente, essa é a relação com o tempo que a este adere através de uma dissociação e um anacronismo” (2010, p. 59) – atitude muito próxima da que o método psicanalítico exige de nós, analistas.

Algumas palavras sobre o tema

Podemos supor que a morte voluntária esteve presente desde os primór­dios da humanidade. A morte tem um lugar especial nas diversas civilizações e culturas. Na civilização ocidental, por exemplo, até por volta de 1600, o tema era visto como um dos mais graves crimes, levando a variadas penalizações, condenações e vergonha à família do morto.

A morte voluntária passou a ser denominada suicídio por volta de 1700 e demorou a ser incluída nos estudos ocidentais sobre a morte natural. Por ser considerada crime, não era contabilizada pela Igreja católica como óbito natural. Conforme aponta Minois, a existência dessa grande lacuna sobre a morte voluntária relaciona-se com o fato de que seu significado “não é de ordem demográfica, mas filosófica, religiosa, moral e cultural. O silêncio e a dissimulação que a rodearam durante muito tempo instauraram um clima de mal-estar em torno dela” (2018, p. 2).

Na própria psicanálise podemos nos indagar se esse mal-estar persiste. Nesse sentido, parece-nos muito significativa a receptividade de nossos cola­boradores ao convite da rbp. Se ainda eram escassos os trabalhos dedicados ao tema, o interesse em refletir sobre ele encontrou neste número outro destino, o que talvez ofereça aos psicanalistas subsídios relevantes tanto para pensar a clínica quanto para desenvolver a teoria.

Como veremos nos artigos aqui publicados, não se trata de um suicídio, mas de muitos suicídios. Suas causas são diversas. Suas formas incluem desde atos impulsivos, estudados (nos quais uma carta explicita o desejo do sujeito) ou silenciosos (em que o próprio suicida não se dá conta de sua conduta des­trutiva) até tentativas malsucedidas e repetidas. Seus sentidos também variam para o sujeito, assim como aquilo que ele pretende comunicar ao outro, o que mostra sua estreita relação com a subjetividade, o espaço e o tempo.

Segundo Gilson Iannini,

no século XXI, o consórcio entre ciência, tecnologia e capitalismo sem fronteiras promete saídas menos dolorosas, como a Sarco, uma cápsula de eutanásia, im­pressa em 3d, que administraria nitrogênio líquido em um dispositivo com design futurista. Seu criador, Philip Nitschke, promete para 2030 o acesso universal a seu dispositivo. … Na Suíça, onde o suicídio assistido é legalizado, empresas como Dignitas e Life Circle atraem interessados de vários países. Os debates sobre suicí­dio assistido e eutanásia avançam em muitos países, como a Espanha, a Holanda, a França e alguns estados dos EUA. Esses exemplos mostram como a morte voluntá­ria ganha contornos inéditos. (2019, p. 27)

Os fatos mencionados desafiam a compreensão desses fenômenos e de suas consequências no humano e no social. E mais: apontam para a interven­ção das pesquisas científicas no ritual da morte voluntária, ao anunciar uma possibilidade de controle da morte sem dor física.

Portanto, para a equipe editorial, o importante era oferecer um espaço reflexivo, não alarmista, para pensar esse tema tão complexo e ainda silencioso em nossas instituições, como o silêncio sobre o suicídio de colegas psicanalis­tas, a começar pelo criador da psicanálise – suspeita-se que Freud tenha tido uma morte voluntária, e não natural.

O suicídio de colegas como Viktor Tausk, Wilhelm Stekel, Paul Federn, Bruno Bettelheim e Gilles Deleuze, para citar alguns casos, põe a questão mais perto dos psicanalistas e nos convida a ampliar o diálogo sobre o assunto entre nós, para além da clínica, que já traz o suicídio porta adentro de nossos consultórios.

A montagem editorial do vol. 53, n. 4

Recebemos espontaneamente 17 artigos, da Febrapsi e externos, em res­posta à carta-convite, o que demostra o interesse e a preocupação com o tema escolhido pela equipe editorial da rbp. Agradecemos a participação de todos que nos enviaram seu trabalho, o que nos permitiu compor um número com diferentes reflexões, olhares e práticas, tornando-o muito mais potente.

Fizemos alguns convites para a seção “Interface”, procurando garantir a transdisciplinaridade, que consideramos fundamental para alcançar a com­plexidade reflexiva que nos propusemos no início do trabalho editorial deste número.

A fim de facilitar a organização da leitura, optamos por apresentar os autores da Febrapsi na seção temática e os autores externos à IPA na seção “Outras palavras”, já que havia material para fechar o número só com artigos sobre suicídio.

Na seção “História da psicanálise”, temos o privilégio de publicar um importante texto histórico, cuidadosamente traduzido para a RBP. Esperamos que os leitores apreciem esse achado.

Na seção “Projetos e pesquisas”, há um trabalho de abordagem da clínica extensa, interdisciplinar, que também fala sobre o suicídio.

Por fim, na seção de resenhas, o tema foi contemplado com a resenha de um livro recém-lançado que analisa a obra O suicídio, de Émile Durkheim, publicada em 1897, talvez o primeiro trabalho científico a tomar o suicídio como objeto de estudo nas ciências sociais.

Considerações finais

O suicídio como tema foi um desafio que a rbp aceitou enfrentar, o que resultou em um número que, do nosso ponto de vista, cumpre o pro­pósito de tornar-se uma referência significativa para psicanalistas, analistas em formação, psiquiatras, pesquisadores, estudantes universitários – enfim, para aqueles que correm o risco de trabalhar com a realidade social, a sub­jetividade e o funcionamento psíquico de pessoas que sofrem com pensa­mentos mórbidos, ou que se sentem internamente tomadas pela fantasia de se suicidar, ou que realizam o ato. O número contempla as indagações sobre os alcances e limites da psicanálise e de suas clínicas no enfrentamento desse sofrimento psíquico.

Para finalizar, agradecemos aos colegas da equipe editorial, aos coedi­tores nacionais e internacionais, à assistente editorial Nubia Brito Bueno, aos revisores, tradutores e pareceristas, a Mireille Bellelis, Lis Gráfica e bibliotecá­rias da SBPSP por mais um ano de trabalho em conjunto.

A todos vocês, o nosso sincero agradecimento pela enorme colaboração e disposição para fazer este projeto editorial avançar.

Aos leitores, desejamos uma instigante leitura.

 

Referências

Agamben, G. (2010). O que é o contemporâneo? e outros ensaios (V. N. Honesko, Trad.). Chapecó: Argos.

Iannini, G. (2019). O tabu do suicídio. Cult, 22(250), 26-28.

Minois, G. (2018). História do suicídio: a sociedade ocidental diante da morte voluntária (F. Santos, Trad.). São Paulo: Unesp.

 

Marina Massi

Editora

 

(1) Agradeço a leitura e as sugestões da editora associada Leda Codeço Barone.

Suicídio

O artigo aborda a tese de doutorado do autor, um estudo sobre o gesto autodestrutivo em pacientes que tentaram suicídio por ingestão de corrosivos, e por isso sem sucesso. Trata-se de uma pesquisa realizada no início dos anos 1970, em duas clínicas de endoscopia de hospital geral, onde os pacientes objeto da pesquisa estavam em tratamento das sequelas da ingestão de corrosivos. O autor define sua pesquisa como estudo de um gesto, a tentativa de suicídio, manifestação da liberdade humana em seu limite extremo. O trabalho foi realizado através de pesquisa anamnéstica, entrevistas psiquiátricas e teste de Rorschach de 33 pacientes adultos, todos do sexo feminino. Foram identificados cinco grupos de tentativas de suicídio: por perturbação da consciência (9% dos casos), por distúrbio mental (18% dos casos), por predomínio de impulsividade (57% dos casos), por predomínio de exibicionismo (6% dos casos) e por depressão (9% dos casos). Entre as conclusões do estudo, o autor destaca: a ausência de tentativa de suicídio não patológica, achado que atribui à possibilidade de realizar o estudo através da avaliação direta e cuidadosa das pacientes; a prevalência de tentativas por impulsividade, o que o autor relaciona à modalidade de tentativa estudada (ingestão de corrosivos), que considera facilitadora à exteriorização da violência impulsiva na passagem do pensamento ao ato; tendo sido encontrada certa gradação de perturbações psíquicas nos casos estudados, a hipótese de que toda tentativa de suicídio, até prova em contrário, seja considerada “patológica” para fins práticos.
Palavras-chave: gesto autodestrutivo, tentativa de suicídio, psiquiatria clínica, método da Psicanálise

Através de fatos clínicos, estudam-se fantasias subjacentes à necessidade do suicida de destruir seu aparelho de sentir e pensar para escapar de sofrimentos insuportáveis. Abordam-se as fantasias de fusão a um objeto idealizado, de autopunição e de vingança. Fatores relacionados a essas fantasias são estudados também em situações de suicídio coletivo e em condutas autodestrutivas de várias culturas. Em seguida, articula-se a ideia de anomia com a de suicídio em grupos indígenas e com aspectos autodestrutivos em nossa sociedade. Esses fatos são aprofundados por meio do estudo de organizações defensivas narcísicas. Demonstra-se que condutas autodestrutivas na adolescência são influenciadas por defesas similares, mas que devem ser diferenciadas das configurações borderline. Finalmente propõe-se que o fanatismo, considerado também como uma fusão com o objeto idealizado, se confunde com o suicídio da condição humana.
Palavras-chave: suicídio, organizações borderline, fantasias sobre a morte, adolescência, fanatismo

Na ideação e no ato suicida estão presentes características psíquicas, como as angústias primitivas, as fantasias simbióticas e a destrutividade, elementos cujas compreensões teóricas e manejos clínicos encontram-se entre os principais interesses dos psicanalistas. Logo, chama a atenção o fato de o suicídio ser um tema pouco abordado nos debates psicanalíticos. A partir de três histórias de suicídio ditas como exemplares, são desenvolvidas algumas reflexões que buscam compreender a origem da dificuldade entre os psicanalistas sobre essa questão. Partindo do suicídio impactante de Primo Levi, são apresentadas duas situações clínicas que levam à discussão dos temores contratransferenciais que envolvem os psicanalistas. Em relação ao suicídio de Viktor Tausk, aborda-se uma possível rejeição dos psicanalistas pioneiros para lidar com os graves problemas psíquicos de um dos seus membros. A morte de Freud é discutida sobre o vértice de uma controvérsia, a de ter havido ou não um suicídio assistido e suas repercussões emocionais e éticas até a atualidade.
Palavras-chave: suicídio, angústias primitivas, destrutividade, contratransferência, história da psicanálise

Ao considerar o adolescente e sua tentativa ou consumação de suicídio, enfrentamo-nos com duas grandes problemáticas: por um lado, o desejo de morte ou a morte; por outro, a adolescência como trânsito da vida, no qual o adolescente nos confronta de maneira contínua. Uma relação destrutiva com sua psique e com seu corpo ou ataques contra ele mesmo que se manifestam por meio de condutas autodestrutivas podem eclodir na adolescência, pondo em xeque as bases narcisistas sobre as quais se apoia um psiquismo sumamente frágil, que o conduz a realizar ações – de forma consciente ou inconsciente – que atentam contra a sua vida. Do nosso lugar profissional, o trabalho analítico com esses jovens nos compromete e desafia na maioria das vezes, conduzindo-nos por caminhos altamente perigosos, em que nossos próprios pontos de referência podem dissipar-se. O trabalho com os afetos é o que mobiliza o analista, porque o processo representativo pode não ser forte o suficiente para ser expresso e contido. O material clínico que se apresenta neste trabalho tenta explicitar algumas das situações que aparecem na adolescência, que nesse caso compõem a vida, a sexualidade e a morte.
Palavras-chave: adolescência, suicídio, agressividade, violência, sexualidade, passagem ao ato

O texto aborda a problemática do suicídio a partir da aproximação conceitual entre o narcisismo e a segunda teoria pulsional, pulsão de vida e pulsão de morte. Procuramos aproximar a conduta suicida de comportamentos homicidas específicos, massacres em escolas em vários países, enquanto atitudes que aparentam ausência de fatores predisponentes religiosos ou ideológicos como causa ou justificativa para condutas extremamente cruéis. Consideramos estar vivendo em um momento social de intensa fragmentação, em que o coletivismo e o individualismo, em vez de se complementarem, tornam-se antagônicos. Em uma sociedade adversa, jovens confusos, com pais deslegitimados, buscam na espetaculização do ato uma forma de validação de sua existência. A ideia de diferenciar-se da massa, mesmo à custa da própria vida, narcisismo de morte em estado puro, encontra, nas mídias sociais, as razões de ser. O desejo de diferenciação, de deixar “neste mundo” a marca pessoal, aproxima o suicídio do homicídio midiático, seja pela transmissão do próprio ato suicida, seja por massacres que antecedem o ato de pôr fim à própria vida.
Palavras-chave: suicídio, espetáculo suicida, massacres em escolas, narcisismo de morte, consumo do ser

A melancolia é conhecida por uma potencialidade mortífera que se manifesta frequentemente em atos de autodestruição. O sujeito melancólico parece estar num constante flerte com a morte e com a possibilidade de saltar no abismo da inexistência. O suicídio do melancólico está profundamente ligado à maneira como se constituem os laços do sujeito com as experiências inelutáveis da vida e, principalmente, como ele vive as experiências de perda. Neste trabalho, a partir de reflexões metapsicológicas, discutimos quais são os componentes da constituição psíquica melancólica que podem levar à autodestruição, realizando uma articulação entre os conceitos de reparação maníaca e trabalho de melancolia. Para tanto, utilizamos teorizações de Freud e Klein, bem como contribuições de autores contemporâneos. Ao longo da discussão teórica, apresentamos também, a fim de exemplificar as ideias dessa discussão, recortes da obra da poetisa portuguesa Florbela Espanca, morta por suicídio em 1930.
Palavras-chave: suicídio, melancolia, metapsicologia, psicanálise

Através de três fatos clínicos psicanalíticos, propõe-se a conjunção constante da mente suicida. O autor utiliza-se de pesquisa da gestação e do perinatal, em que estuda as condições da instalação da reverie de vida e do destino da pulsão de morte pela reverie de morte.
Palavras-chave: pulsão de morte, suicídio, reverie de vida, reverie de morte, traumas, ontogênese, filogênese

Neste trabalho a autora revisita várias abordagens teóricas diferentes a respeito da adolescência e do suicídio nessa fase da vida, enfatizando a diferença entre o desejo de matar-se, procurando sair desta vida em busca de outra, ou mesmo tentando eliminar um perseguidor interno, e o desejo de morrer propriamente dito. As situações clínicas oferecidas iluminam diferentes configurações e funcionamentos mentais, exemplificando aspectos importantes, como onipotência, negação da violência interna, desejo de união com o objeto idealizado e vivências francamente psicóticas, frequentes nessa fase da vida, onde a desfusão pulsional libera a destrutividade, tornando a personalidade vulnerável aos elementos provenientes da explosão pulsional e do ambiente social e cultural. O trabalho traz também contribuições da literatura que ajudam a ampliar nossas possibilidades de compreender a complexidade da condição humana.
Palavras-chave: desfusão pulsional, pulsão de morte, onipotência, narcisismo, objeto idealizado, negação, violência interior

Interface

O objetivo central deste artigo consiste em apresentar uma reflexão sobre a morte livre na obra de Friedrich Nietzsche, em particular em Assim falou Zaratustra. O artigo analisa o pensamento de Nietzsche a respeito do suicídio, considerando-o tanto em relação à tradição da história da filosofia quanto em relação à posteridade de Nietzsche, e procura destacar a originalidade do tratamento dado ao tema na filosofia desse pensador.
Palavras-chave: suicídio, crime, vida, cultura, tradição

Neste artigo, abordamos como o evento do suicídio foi imerso no discurso médico na sociedade contemporânea. Discutimos como algumas técnicas, protocolos e instrumentos não permitem que outras formas de compreensão do evento possam emergir. Nosso objetivo foi analisar de que maneira esse discurso hegemônico isolou o suicídio e o pôs num estado de confinamento através de categorias médicas. Também, consideramos como as narrativas dos sujeitos envolvidos se tornam subordinadas às concepções do discurso médico. Salientamos a falta de escuta aos sujeitos envolvidos nos eventos suicidas, sejam eles familiares ou os próprios indivíduos que tentaram o suicídio. Discutimos um caso emblemático, inserido numa demanda geral sobre esse tema. Apontamos algumas possibilidades de escuta do sujeito com tentativa de suicídio mesmo quando a narrativa se mostra desconexa ou obstruída. Nessa etapa nos inspiramos nos referenciais da teoria psicanalítica.
Palavras-chave: suicídio, tentativa de suicídio, memória

Este trabalho, escrito a seis mãos, busca oferecer olhares distintos e complementares a respeito de um tema multifacetado: a prevenção ao suicídio. Os autores trazem dados atualizados das taxas de suicídio no Brasil e no mundo, com a informação alarmante de que os números no Brasil cresceram, enquanto no mundo caíram. Tratam de políticas públicas que se mostraram efetivas na diminuição dos casos, contextualizam a intersecção teórica e clínica desse tema entre psicanálise e psiquiatria, discorrem a respeito das reações contratransferenciais do profissional da saúde mental ao lidar com a problemática dos pacientes que apresentam ideação, plano ou tentativa de suicídio com uma vinheta clínica ilustrativa e encerram o trabalho abordando uma perspectiva ética não comum à nossa cultura brasileira, de que existem países que reconhecem como legítimo o desejo de morte de pacientes com transtornos mentais graves, sendo possível a realização oficial e assistida da eutanásia.
Palavras-chave: suicídio, psiquiatria, psicanálise, contratransferência, políticas públicas

Outras palavras

Neste artigo, a partir de aportes psicanalíticos sobre trauma, ato e dor psíquica, explora-se a vinheta clínica de Aurélio, que aos 60 anos tenta o suicídio ingerindo soda cáustica. Compreende-se que a modalidade de passagem ao ato, que caracteriza a tentativa de suicídio, denuncia uma extrema situação de dor psíquica, na qual o eu é atacado por intensidades traumáticas que põem em risco sua existência. Considera-se que a escuta psicanalítica pode vir a promover, diante da dramaticidade e do risco à vida inerente aos atos autodestrutivos, a construção de alternativas no enfrentamento da dor psíquica.
Palavras-chave: tentativa de suicídio, dor psíquica, destrutividade, psicanálise

O pensamento teórico-clínico de D. W. Winnicott traz importantes contribuições para a ampliação da compreensão do suicídio, apontando perspectivas clínicas no tratamento psicanalítico. A partir do conceito de submissão, decorrente do estabelecimento de um falso self patológico, é possível ao analista identificar a vulnerabilidade oculta sob a aparente normalidade. Quando o indivíduo se encontra totalmente dominado por um falso self submisso, vivendo num estado de adaptabilidade e racionalidade constantes, a morte pode vir a representar um último recurso contra a ameaça de aniquilamento. Identificar esse tipo de sofrimento psíquico é fundamental para um manejo clínico que possibilite ao paciente reencontrar algum sentido em sua vida, a partir da possibilidade de se sentir real na relação com o analista. A apresentação de um exemplo clínico tem o objetivo de auxiliar na reflexão sobre o recorte teórico apresentado, criando imagens que introduzam o leitor no universo abstrato dos conceitos.
Palavras-chave: falso self, submissão, suicídio, solidão essencial, Winnicott

Neste artigo, discuto como a proposta de uma compreensão filosófica sobre o suicídio é um desafio e como um viés teórico multidisciplinar, aqui proposto por meio de um breve contraponto entre antropologia e psicanálise, apresenta potenciais heurísticos e epistemológicos no desvelamento do fenômeno. Apresento também a narrativa de um caso de pesquisa etnográfica para incorporar alguns elementos na discussão sobre o suicídio.
Palavras-chave: suicídio, antropologia, psicanálise, subjetividades, devir

História da psicanálise

Projetos e pesquisas

Este artigo apresenta a experiência de três psicanalistas que, juntos, acompanharam um grupo de educadores impactados com o crescente número de ameaças de suicídio e de suicídios consumados entre os alunos de suas diversas unidades escolares. O desamparo, a impotência e a angústia caracterizavam os relatos que chegavam como um pedido de socorro. Como evitar que novos episódios trágicos ocorressem? O que deveriam saber que garantisse o manejo adequado e preventivo? Sentiam-se perdidos diante dessa realidade inusitada. A psicanálise enquanto método promoveu um processo de ressignificação dos elementos apresentados, recolocando os educadores como possuidores de competências e conhecimentos suficientes para lidar com esse fenômeno, que tem implicações predominantemente de ordem social e também psíquica.
Palavras-chave: suicídio, clínica extensa, mito do especialista, quarto de despejo, judicialização

Resenhas