Orientação aos colaboradores | 12/2018
Carta-convite
Desilusões na clínica psicanalítica
Melhor conhecer o adversário que o analista terá de enfrentar do que desconhecê-lo, mantendo ilusões destinadas ao fracasso.
André Green
Quanto do fracasso no tratamento de Dora permitiu que Freud formulasse o conceito de transferência? E o que dizer sobre os desafios na análise do Homem dos Lobos, que fizeram Freud trabalhar até o final da vida em busca de respostas? As situações clínicas difíceis desacomodam o analista e, por isso mesmo, tendem a ser mais proveitosas do que as situações já conhecidas. “Se aprende mais nos jogos em que se perde do que nas partidas em que se ganha”, diz uma antiga máxima do xadrez, inventada por Raúl Capablanca.
De igual modo, boas perguntas oriundas de insucessos (ainda que parciais) são capazes de revolucionar pensamentos, mas não sem antes provocar sentimentos de impotência ou de desilusão. Tem sido assim nas mais distintas formas de saber e também na psicanálise: algumas questões são passíveis de elaboração, outras seguem em aberto e, como um bastão, são passadas para as gerações seguintes.
No fim da vida, Freud escreveu “Análise terminável e interminável”, onde faz um levantamento das dificuldades no trabalho analítico que desmontaram algumas de suas convicções clínicas. Na mesma direção, dois anos antes de sua morte, André Green publicou um trabalho intitulado Ilusões e desilusões do trabalho psicanalítico, no qual faz um mapeamento dos fracassos que pediam elaboração teórico-clínica. Ambos deixaram em seus últimos escritos um conjunto de perguntas sem respostas sobre o manejo de situações difíceis, que revelam impasses para o nosso campo. Esses dois textos deixam como herança, para nós, um inventário do desconhecimento psicanalítico.
Elaborar e perlaborar pressupõem um tempo de desilusão, de suspensão momentânea do saber. E requerem coragem: coragem para olhar de frente as nossas insuficiências, merecedoras de desdobramentos futuros.
Sem mais, perguntamos: em quais pontos de nossa prática clínica encontramos especiais dificuldades? Quais desilusões podem se tornar interrogantes teórico-clínicos? Por onde avançar?
Inaugurando a nova gestão editorial da Revista Brasileira de Psicanálise, convidamos os colegas a participarem desse inventário, interrogando sua clínica, recortando os pontos de mobilização, rastreando os momentos de desilusão que resistem às nossas abordagens clínicas.
Os trabalhos com essa temática deverão ser entregues para avaliação até o dia 3 de fevereiro de 2025 e serão recebidos exclusivamente através do e-mail rbp@rbp.org.br. As orientações para a submissão de artigos encontram-se em nossa página eletrônica: www.rbp.org.br.
EDITORA
Berta Hoffmann Azevedo
EDITORA ASSOCIADA
Claudia Amaral Mello Suannes
EQUIPE EDITORIAL
Ana Paula de Oliveira Marques
Bruno Profeta Guimarães Figueira
Camila Paiva Petean Danesi Rossi
Cristiana Tiradentes Boaventura
Denise Salomão Goldfajn
Leda Maria Codeço Barone
Ligia Bruni Queiroz
Ludmila Y. Mafra Frateschi
Luiz Moreno Guimarães Reino
Ricardo Biz
Silvana Rea